"Que livro é esse que você tá lendo?" Essa, sem dúvida, é uma
das perguntas que eu mais respondi na minha vida. Se você, assim como eu,
carrega um livro pra todo lugar que vai, seja esse lugar a faculdade ou o
mercadinho da esquina, com certeza alguém já te perguntou isso. Principalmente,
se a pessoa em questão também gosta de ler. Porque quando você gosta de ler a
primeira coisa que salta aos seus olhos quando você encara uma pessoa é,
obviamente, o livro que a pessoa está lendo.
Okay, certo, mas disso todo mundo já sabe não? Sim, todo mundo sabe e
isso é ótimo, diga-se de passagem, porém nem tudo são flores. Quando você é uma
pessoa que gosta de ler, provavelmente, você vai ter de enfrentar diferentes
situações na sua vida por conta desse hábito. Na escola, ensino fundamental
e/ou médio, pelo menos um colega seu vai te perguntar se você vai construir uma
casa com aquele seu livro de mais de 500 páginas; ou vão te perguntar qual a
graça dos livros; ou, em última estância, se você for uma pessoa mais quieta e
tímida, você vai ser o anti-social da turma (não que isso esteja diretamente
ligado ao hábito da leitura, não está, mas que esse esteriótipo errôneo rola,
isso rola sim). E para todas essas questões só há uma solução: você finge que
não tá ouvindo e continua lendo seu livro calmamente.
Quando você termina o colégio você pensa "poxa, tô livre pra ler o
que eu quiser sem ninguém me encher o saco e..." No, no, no, no, my
friend. Você está livre para ler o que quiser, exceto, SE VOCÊ FIZER FACULDADE
DE LETRAS! Aí você deve estar se perguntando, mas Letras num é onde está o povo
que gosta de ler? É, mas lembrem-se amiguinhos, existe gente chata em tudo que
é lugar, isso incluí o curso de Letras também.
Para quem não ainda não sabe, eu faço Letras. Certo dia, eu estava lendo
na sala de aula e uma colega minha veio, me cumprimentou e perguntou o que eu
estava lendo. Eu levantei o livro e mostrei a capa de "O Senhos dos
Ladrões". Minha colega sorriu e ficou tipo "claro que você estaria
lendo, Cornelia Funke". Então, eu olhei pra minha colega e falei "Sou
uma criança quando o assunto é literatura, sou mesmo uma criança!". Então,
essa minha colega, muito gente fina por sinal, disse que também gostava desse
tipo de livro, mas que nem sempre lia eles pela Letras porque se não ficava com
má reputação. E, pra completar, ela disse que certa vez, enquanto falava sobre Percy
Jackson com uma amiga, recebeu olhares um tanto reprovadores por parte de
pessoas que estavam no recinto. Ai eu pergunto pra vocês: Qual é o problema em
ler Percy Jackson? Quem foi que inventou que estudantes de Letras só podem ler
livros escritos por pessoas que já morreram?
De fato, apesar de não parecer, existe uma espécie de divisão entre a
literatura estudada pelos críticos e um outro tipo de literatura; uma
literatura que não merece atenção seja por ser "ruim", "popular"
ou "infantil". Okay, que as obras que estudamos na Academia, tendem
a possuir mais profundidade do que os
livros que foram lançados nos últimos dez anos pode até ser verdade,
entretanto... Por que o fato de eu ler Bocage tem, necessariamente, de excluir
o fato de eu ler, sei lá, Jogos Vorazes? Não é possível estabelecer uma relação
entre o clássico, o cultie, o profundo, o popular e o mainstream? Toda obra que
vende bastante é mesmo ruim? Tá escrito em algum lugar? Em alguma Bíblia dos
Letrados? Porque se tiver eu preciso ler isso agora mesmo.
Eu gosto de ler desde que me entendo por gente. Eu gosto de livros. Eu
queria aprender a ler, porque meu sonho era poder ler livros, todos os livros,
variados tipos de livros. Eu li O Senhor dos Anéis aos 14 anos, e na mesma
época eu li Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Os Lusíadas. Eu sou
fã de Harry Potter, apaixonada pela Lygia Bojunga, doida pelos livros da Renata
Ventura e gosto de Cecília Meireles e Clarice Lispector. Eu li Grande Sertão:
Veredas, antes de entrar na faculdade! E não foi por obrigação, foi opção
mesmo, eu queria saber como era. É claro que quando eu li essas obras
complicadas estando ainda no colegial eu não consegui absorver tudo que a obra
podia me proporcionar, mas eu achava legal me desafiar e ler algo completamente
diferente. Hoje, ou amanhã, quando eu reler esses livros, eu vou ter uma visão
completamente diferente e mais clara e isso vai ser ótimo, porque eu já
conhecia a obra antes e vou poder entender coisas que, aos meus 17 anos, não
conseguia compreender. O meu amor profundo por fantasia e infanto-juvenil nunca
me impediu de sentir vontade de ler os clássicos, nem de tentar compreender
esses livros mais complicados. Você gostar de uma coisa não precisa,
necessariamente, excluir a outra. Você pode escolher um dos lados, ou transitar
entre os dois procurando o que mais te agrada dos dois mundos. Ninguém que
gosta de ler começou lendo Drummond; você pode até ter começado por Bandeira,
mas também precisa admitir que não entendia o porquê do cara fazer um poema
sobre o porquinho da índia embaixo do fogão.
Então, sejamos honestos, sim? Sem Harry Potter, milhares de pessoas ao
redor do mundo não teriam conhecido o prazer da leitura. Talvez, se alguma
pessoa não tivesse lido Harry Potter aos 11 anos, não teria lido O Senhor dos
Anéis aos 16, ou Kafka aos 20. Vamos parar com esse preconceito de achar que
uma pessoa que lê Divergente não é capaz de ler e entender Edgar Allan Poe.
Vamos aceitar que uma coisa não excluí a outra, vamos permitir que uma pessoa
leia Instrumentos Mortais e Sherlock Holmes. Livros são livros, não é mesmo?
Todo mundo direito a se expressar como quiser, escrever o que quiser, e ler o
que quiser. Afinal, gosto cada um tem o seu e livro favorito é igual namorada:
pode não ser a garota mais bonita da rua aos olhos de todo mundo, mas é única
pra você e é só isso que importa!
Olá!
ResponderExcluirÉ realmente bem chato ser julgada pelo livro que estamos lendo. Passei menos por isso que você, aparentemente... Pois faço psicologia e, normalmente, mesmo sendo fantasia o povo se finge de interessado e depois me deixa kk mas quando são livros em inglês, pensam que estou querendo me mostrar, por isso não leio mais livros em inglês na faculdade.
Enfim, como você disse: uma coisa não anula a outra. Não é porque você lê livros infanto-juvenis que isso vai te impedir de ler ou de compreender obras supostamente mais complexas.
Continue lendo o que te faz feliz e deixe as pessoas com mente fechada pra lá~
Abraços~
~ Nankin Dust
Eu nunca tive de ouvir algo muito ruim, não na faculdade. Nunca falaram comigo diretamente, não sério, é mais uma questão de algo que acontece do que qualquer outra coisa. Eu leio de boas qualquer livro lá pela Letras, inclusive reclamo se ele for ruim, com qualquer pessoa que apareça kk. Ler é inglês é legal, menina, não pare, please! Pode continuar, por favor!
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