E enfim, depois de quatro anos de espera, eu terminei de ler a trilogia
Fronteiras do Universo. De autoria de Philip Pullman, a série é composta pelos
livros A Bússola de Ouro, A Faca Sutil e A Luneta Âmbar. Pullman é um premiado
autor britânico de livros dedicados ao público infanto-juvenil e, nessa série,
ele abala as estruturas. A trilogia não é assim tão conhecida, mas tem uma
qualidade inegável. A resenha a seguir contará com alguns leves spoilers,
afinal, depois de quatro anos esperando eu tenho meus direitos de comentar
sobre o que li.

Como eu disse, o Bússola é o melhor, livro, sério. Ele fez eu me
apaixonar por Lyra, Iorek Byrnison, Serafina Pekala e muitos outros
personagens. O primeiro livro é menos "pesado" que os demais mas
possui um clima muito gostoso. Tudo é uma descoberta; a narrativa é cheia de
reviravoltas e o final é de tirar o fôlego. Isso sem contar o quão deslumbrada
eu fiquei por conta do aletiômetro.
O segundo livro, A Faca Sutil, possui um ritmo frenético com dezenas de
coisas acontecendo ao mesmo tempo. Em A Faca Sutil, Lyra conhece Will, um
garoto de um mundo muito parecido, mas também muito diferente do dela. Will é
um garoto de doze anos. Ele tem uma mãe doente e um pai que desapareceu
misteriosamente doze anos atrás. Will começa o livro imerso em um grande
problema e tudo só piora quando ele, acidentalmente, mata um homem. Preocupado
com a mãe e atordoado pelo crime que cometeu, Will segue uma gata de rua por
uma estranha janela no tempo, indo parar em um outro mundo onde conhece Lyra. A
partir daí o destino dos dois se mostra entrelaçado e eles começam uma jornada
juntos.
A Faca Sutil é um livro onde acontece muitas coisas, muitas coisas
mesmo. A história também se desenvolve bastante, alguns mistérios são revelados
e outros novos surgem. Eu senti uma leve mudança em Lyra ao longo desse livro;
a garota começa a amadurecer e se tornar menos "selvagem". Ainda
assim, ela continua com aquele jeitinho todo Lyra de ser que me cativou no
primeiro livro. Entretanto, no segundo volume da trilogia Pantaleimon tem uma
participação um pouco menor, o que me fez sentir um pouco de falta do dimon
brincalhão de Lyra. Também é nesse livro que o conjunto de personagens começa a
ter suas maiores perdas.

Falando da trilogia num geral, eu achei muito boa, mesmo. Entretanto,
vou ser sincera com vocês, a trilogia tem sim uma ideologia ateísta e isso
influí na obra. Ninguém vai virar ateu por ler a série, claro, e é uma boa
experiência a leitura. Dois tipos de pessoas talvez se sintam muito tocadas
pela leitura dessa série: alguém que frequenta algum tipo de religião ou alguém
que tem muitas dúvidas quantos suas próprias ideias em relação a esse assunto.
Eu faço parte do primeiro caso, mas isso não me afetou muito com relação a
leitura. Quero dizer, nada escrito ali me irritou ou incomodou. E foi, digamos,
interessante, me ver diante de uma visão diferente de um assunto tão delicado
como esse. Basicamente, se as coisas tivessem acontecido no nosso mundo da mesma
maneira que aconteceram nos mundos onde a história se passa, bem, acho que eu
entenderia o posicionamento de certas personagens da história. Também foi bom
ver como algumas coisas, quando vistas por um certo olhar e tomadas de certa
maneira podem ser ruins. Quando a gente se apropria de algum preceito, temos de
tomar muito cuidado com a forma como vamos encarar aquele preceito. Uma
interpretação ferrenha e errônea pode tornar algo bom uma coisa bem terrível.
Em Fronteiras do Universo a Igreja Católica retratada age segundo os preceitos
da Idade Média, então, é claro que ela era má e louca. Eu me vi dando graças a
Deus por as coisas não serem mais assim, pelo menos nos locais que eu costumo
frequentar. Uma coisa importante a se retratar é que a visão apresentada pelos
personagens, nem sempre é, necessariamente, a visão de Pullman. Pode ser a
visão do narrador, mas o narrador também é um personagem. Fronteiras do
Universo é uma obra de ficção, não uma obra autobiográfica. Também é preciso
ressaltar que a crítica de Pullman é sobre a opressão que a religião cristã é
capaz de causar, não sobre a religião cristã em si ou sobre os cristãos da
nossa realidade. A Autoridade retratada por Pullman era um tirano, ele exercia
e incitava a tirania, em nenhum momento Pullman diz que o Deus cultuado em
nosso mundo é um tirano. Na triologia o que ocorre é uma caricatura, por falta
de palavra melhor, de Deus. A Autoridade é mais um personagem, nada tem de
condizer com a realidade. Devo dizer que Pullman foi muito ousado ao fazer e,
sim, isso é para soar elogioso.
A maneira como Pullman trabalha com toda a questão ideológica, mais a
questão da bíblia, mais a questão física, mais a questão filosófica e humana
também é muito legal. A trilogia é um misto de diversas coisas salpicado com
fantasia e, meu Deus, eu amo fantasia! Sempre achei e ainda acho Fronteiras do
Universo uma série muito melhor do que muitas existentes no mercado literário
atual e me deixa bem triste saber que poucas pessoas a conhecem. O final da
trilogia é bem paradoxal. É triste, mas ao mesmo tempo esperançoso.
Quanto à adaptação cinematografia de A Bússola
de Ouro: em questão visual a produção mandou muito bem, já quanto o roteiro
deixou um pouco a desejar. O filme não adaptou o primeiro livro inteiro o que é
bem frustrante uma vez que você leia o livro. Ainda assim, eu gosto muito da
escolha da atriz que interpreta Lyra. Dakota Blue Richards foi muito bem como a
rebelde garota de doze anos. Ela conseguiu me passar aquele ar selvagem da
Lyra, aquela rebeldia, aquela quase empáfia que a garota possui. Gosto
particularmente das cenas em que Lyra utiliza um dos seus maiores talentos:
mentir.
Nicole Kidman dá vida à sra. Coulter
e eu também não seria capaz de imaginar outra mulher para o papel. Na pele de
Marisa Coulter, Kidman exerce todo o seu encanto, sedução e maravilha.
Eu assisti ao filme antes de ler o
livro e essas duas personagens ficaram muito gravadas na minha cabeça de modo
que eu não consegui tirar a imagem das atrizes da minha mente. Quando eu leio o
livro imagino Dakota como Lyra e Nicole como sra. Coulter. Entretanto,
atualmente eu tenho uma outra imagem perfeita de Lyra em minha cabeça.
Fronteiras do Universo é uma série ousada e grandiosa. Ela aborda temas
grandiosos, ela tem ações grandiosas e ela tem um desfecho muito grandioso. É
uma série que devia ser mais reconhecida, afinal, o trabalho de Pullman é, de
fato, muito interessante. Já chegaram a colocá-lo no mesmo patamar de Tolkien e
C.S Lewis e eu acho a comparação merecida. Apesar de não ser muito difundida,
Fronteiras do Universo tem potencial para ser uma série de fantasia capaz de
atravessar barreiras como a censura e o tempo.
Oi! Adorei a crítica aos livros.
ResponderExcluirJá os li uma vez e estou repetindo a dose.
O único porém que deixo é que eu nunca imaginaria a Nicole Kidman como a Sra Coulter.
Eu sempre imaginei a Michelle Pfeiffer de cabelos pretos.
A Nicole é linda e tem a aura da Marisa, mas se pelo menos pintasse o cabelo de castanho escuro, como na descrição do personagem do livro, encaixaria melhor ainda.
Eu assisti primeiro o filme e li o livro depois, então eu consigo aceitar a Nicole no papel. Eu nunca imaginei outra pessoa, pra ser sincera. O que me deixa triste com o filme é o fato de ele não ter adaptado o livro inteiro.
ExcluirPois quando eu, mais de 10 anos atrás, eu só conseguia visualizar a Ana Paula Arósio como a Marisa. Acho que foi a única personagem que eu dei um rosto conhecido enquanto lia...
ResponderExcluirAna Paula Arósio... Que peculiar. Mas talvez combinasse, no fim das contas. Ela é linda.
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