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Alice, seus sonhos e seu País das Maravilhas - Alice to Zouroku (resenha)

“Quando Alice ficar adulta
ela com certeza contará histórias estranhas
para criancinhas que se parecem com ela.
E, nessas histórias, ela provavelmente
contará aquela...
A história de um mundo fantástico
com o qual sonhou há muito tempo. ”

     Alice é, com certeza, um nome deveras emblemático. Quando esse pequeno conjunto de letras é pronunciado, muito provavelmente, algo será evocado na memória de quem o ouve. Não é Alice o nome de uma das heroínas da Disney? Não é Alice o nome daquela garotinha do livro de Lewis Carrol? Uma menina esperta e muito curiosa que persegue um coelho atrasado, acabando por cair dentro de sua toca e lá no fundo descobrir um mundo de maravilhas... 

     O nome Alice e todo sentido e relações que ele carrega é frequentemente utilizado, ou reutilizado, na literatura, no cinema e nas demais mídias. Vários capítulos extras, episódios especiais e fillers de diversos títulos de mangá e anime já foram lançados utilizando-se de alguma forma da história de Carrol, seja através de um crossover ou de uma caricatura.

    Um dos animes da há pouco encerrada temporada de abril, faz mais ou menos a mesma coisa, porém, talvez dando um passo além. Alice to Zouroku é baseado em um mangá homônimo de autoria de Tetsuya Imai; a história foi serializada em 2012, no Japão, e compilada em sete volumes no formato tankôbon. Alice to Zouroku se apropria do nome “Alice”, como também da ideia e do conceito de “País das Maravilhas” criando algo novo, ao mesmo tempo que deixa mais do que evidente as referências e intertextualidades com a obra de Lewis Carrol.

       A história começa com um grupo de garotas que possuem um poder chamado “Sonhos de Alice”, habilidade que as torna capazes de fazer sua imaginação se tornar realidade. Essas meninas são tratadas como objeto de pesquisa em um determinado laboratório. Uma dessas garotas, Sana, cujo poder específico inclui a habilidade de ignorar as leis da física e manifestar qualquer coisa que ela seja capaz de imaginar, escapa do laboratório e encontra Zouroku, um velho levemente ranzinza que não gosta de interrupções em sua vida cotidiana. 

    Apesar do início “garotas presas em laboratório → uma delas foge → o laboratório passa a persegui-la” Alice to Zouroku não se mantém o tempo todo nessa linha. Na realidade, a história se trata muito mais de acompanhar o cotidiano de Sana após seu encontro com Zouroku e seu crescimento, do que uma corrida “dos caras maus” atrás da protagonista.

      O primeiro episódio do anime pode não agradar muito visualmente, já que a animação não é das melhores e, embora melhore um pouco nos próximos episódios, não sai muito do médio-regular, entretanto, a história compensa. Alice to Zouroku consegue reunir numa mesma narrativa uma parte inicial de fuga, batalhas, fortes emoções e descobertas, e uma parte seguinte de um slice of life cotidiano quase tão fofo quanto Amaama to Inazuma. No que diz respeito aos personagens, eles são em sua maioria muito carismáticos, inclusive o rabugento Zouroku. 

    Comecemos a falar dos personagens por Sana, a protagonista. Conhecida no laboratório como Rainha Vermelha, a garotinha é capaz de criar com seu poder absolutamente qualquer coisa que imaginar. Ela possui entre 8 e 10 anos e sua inocência causada pela idade e pelo desconhecimento que possuí com relação ao mundo exterior acaba, às vezes, lhe trazendo problemas. Ao fugir do laboratório encontra-se com Zouroku, àquele que irá acolhe-la e, ao seu lado, protagonizar cenas de imensa fofura.

   Zouroku, por sua vez, é um velho rabugento dono de uma floricultura. Inicialmente, ele tenta não se envolver de forma alguma com Sana, mas é incapaz de deixar uma garota tão jovem abandonada à própria sorte. Apesar de ser um tanto resmungão e ter uma cara um tanto fechada, Zouroku é um avô muito amoroso tanto para Sana quanto para sua neta biológica.

    Kashimura Sanae é a neta de Zouroku. Ela mora com o avô desde que seus pais morreram, há muitos anos atrás. Sanae aceita Sana com muita facilidade em sua casa, feliz por ter uma espécie de irmã mais nova. A garota demonstra ter um jeitinho um tanto desligado que acaba sendo um bom escape cômico.

    Além de Sana, existem outras garotas no laboratório, também possuidoras dos “Sonhos de Alice”. Dentre essas meninas estão Asahi e Yonaga, gêmeas idênticas cujas habilidades são, respectivamente, materializar qualquer arma conectada à uma corrente e invocar um arco. 

      Outro núcleo de personagens da narrativa são os encarregados do governo ocupados de investigar sobre os “Sonhos de Alice” e sua coexistência com os demais seres humanos. Fazem parte desse núcleo Naitô Ryû, um antigo amigo de Zouroku que deseja saber mais sobre os “Sonhos de Alice”; Yamada Noriko, uma especialista técnica que trabalha junto com Naitô, admiradora fervorosa de sua veterana; e Ichijo Shizuku, a assistente de Naitô capaz de invocar 666 armas diferentes. 

    Não é somente o carisma dos personagens, porém, que torna Alice to Zouroku uma narrativa prazerosa de ser acompanhada. No próprio enredo existem algumas sutilezas que devem ser levadas em consideração. Como, por exemplo, o fato de os “Sonhos de Alice” serem poderes que materializam e evocam coisas a partir da imaginação de suas usuárias, em sua maioria garotas muito jovens. Nesse detalhe tão simples, há uma espécie de valorização da imaginação infantil como uma força poderosa.

  Essa ideia é consideravelmente explorada na narrativa, principalmente no que diz respeito à Sana. A protagonista é uma criança tão jovem e tão pura quanto a ideia que, de fato, se faria da Alice de Carrol. Sua curiosidade e inocência, características tão genuinamente infantis, combinadas com seu poder criam uma protagonista que desperta simpatia no público e servem para dar um clima leve, um tanto aconchegante, quase inserindo nostalgia, à trama.

     Outro ponto sutil, mas interessante da narrativa é o próprio “País das Maravilhas”. Ele aparece na história como um fenômeno sem explicação de onde nasce Sana, um lugar onde tudo parece ser possível e onde a palavra “maravilhas” pode exercer todos os seus sentidos amplamente. Não é apenas uma referência, é mais do que isso. Ocorre uma espécie de ressignificação ou talvez uma acentuação de significado. O País das Maravilhas tem fome de conhecimento do mundo humano, ele quer aprender tal qual uma criança curiosa. 

    Ainda no campo das sutilezas, vale a pena citar a abertura e o encerramento que combinam maravilhosamente com a narrativa tanto em temática quanto em clima. São absurdamente lindos e bem sacados, principalmente, no que diz respeito às músicas escolhidas. 

    Alice to Zouroku não é uma obra prepotente, nem possuí grandes ambições. É uma história bonitinha, engraçada e leve, com alguns toques de drama e batalhas, nada muito além disso. Uma narrativa singela e carismática como sua protagonista, que acaba por explorar, propositalmente ou não, alguns aspectos da criança e da infância. No anime, ecoa a Alice de Lewis Carrol de uma forma que vai além das referências e intertextualidades, quase como se uma essência tivesse sido captada. A essência de Alice, que não é apenas uma, mas várias: as muitas Alices que por aí existem, crianças curiosas, ingênuas, mas espertas, imaginativas o suficiente para criarem seu próprio País das Maravilhas, que não só ouvem como também vivem histórias, aventuras que um dia contarão para outras crianças tão curiosas, imaginativas e sonhadoras quanto elas.


“Esta é....
... a história de uma garota....
...que continua procurando a ‘si mesma’,
para que vire seu ‘eu’”.


O desejo da escória - Kuzu no Honkai (resenha)

“Amor sem esperança
Amor doloroso
Amor não correspondido.
Eles são mesmo tão belos assim?
Eu acho que não.
Estamos namorando, mas...
Somos substitutos de outra pessoa um do outro. ”

     As relações humanas são, inegavelmente, um terreno espinhoso. A complexidade das emoções, sentimentos e da psique das pessoas é um assunto sempre complicado de ser tratado. Dentre os sentimentos humanos, o mais discutido, por assim dizer, seja na dita vida real, seja na ficção é, sem dúvidas, o amor; mais especificamente, o amor romântico. Livros, tratados, ensaios, teorias, filosofias, definições... há uma busca incessante para tentar entender melhor o que é, afinal, o tal do amor romântico e quais seus efeitos sobre as pessoas. Há quem diga, inclusive, que toda vez que ouvimos a palavra “amor” automaticamente pensamos no “amor romântico” e que temos a tendência de dar prioridade a ele em detrimento aos demais tipos de amor. Essa é uma afirmação que pode ser contestada, embora não seja de todo errônea. 

       Dentre algumas das teorias sobre o amor romântico têm-se, por exemplo, o Amor do Romantismo no qual está contido a supervalorização do ser amado, único capaz de trazer toda a felicidade e completude ao apaixonado; nele, há ainda o conceito de Amor Reserva, onde a amada não pode ser maculada pela realização do amor através do contato físico. Entretanto, apesar do Romantismo ser um movimento do século XIX, o conceito de amor romântico das obras da época é muito semelhante ao conceito de amor das poesias provençais e das cantigas de amor do Trovadorismo.

     Em oposição completa ao Amor do Romantismo, haveria, então, uma outra teoria do Amor Contemporâneo, no qual há a supervalorização do “eu” em relação ao outro, tratando o suposto ser amado como uma espécie de mercadoria e descartando-o quando este não serve mais; ou seja, uma pessoa X só se relaciona com uma pessoa Y até o momento em que esta pessoa Y atende suas necessidades, a partir do momento que a pessoa Y não é mais “útil” para a pessoa X esta o descarta e troca por uma pessoa Z.

     Como uma espécie de equilíbrio entre essas duas teorias, ou modos de amar, haveria o que se pode chamar de Saúde Mental: quando dois indivíduos em um relacionamento reconhecem a si mesmos e ao outro como indivíduos dotados de defeitos, qualidades e necessidades, não depositando no parceiro toda a responsabilidade de fazer ao outro feliz e construindo juntos o relacionamento.

     Juntamente com os conceitos de amor há também, uma vez que a afeição não seja correspondida, o conceito de melancolia. Este é um fator recorrente em algumas obras do Romantismo, por exemplo. Os conceitos que temos de amor, correspondidos ou não, são na maioria das vezes herdeiros, de alguma forma, do Romantismo. Em Kuzu no Honkai, provavelmente não serão encontrados tantos elementos do Amor do Romantismo, entretanto, estão presentes na obra dois conceitos que se relacionam com as teorias sobre o amor: amor não correspondido e melancolia.

        Adaptado a partir de um mangá de autoria de Mengo Yokoyari, Kuzu no Honkai tem como protagonistas Yasuraoka Hanabi e Awaya Mugi, dois adolescentes de dezessete anos que parecem ser o casal ideal. Ambos são populares e parecem se encaixar muito bem juntos. Entretanto, o que as outras pessoas não sabem é que tanto Hanabi, quanto Mugi são secretamente apaixonados por outras pessoas e só estão juntos para acalmar sua solidão. Mugi é apaixonado por Minagawa Akane, a jovem professora de música que costumava ser sua tutora; Hanabi, por sua vez, é apaixonada por Narumi Kanai, o professor de literatura a quem conhece desde criança. Mugi e Hanabi encontram um no outro um lugar onde podem sofrer por seus amores não correspondidos e consolam-se compartilhando uma intimidade física conduzida pela solidão. 

     Existem algumas coisas que devem ser observadas assim que se põe os olhos em Kuzu no Honkai: primeiro, Hanabi e Mugi se relacionam fisicamente para acalmar sua solidão e encontrarem consolo. Em outras palavras mais diretas, eles se tocam e se acariciam mutuamente enquanto pensam em seus amados. Sim, enquanto se beijam projetam um no outro a imagem daqueles por quem são apaixonados, chegando a chamar pelo nome dessas pessoas. A segunda coisa a se notar é que Kuzu no Honkai significa Desejo da Escória e isso é algo importante e que deve ser mantido em mente por conta do desenvolvimento que a história terá.

O início da narrativa é um tanto quanto apreensivo; quando se tem uma temática dessas, uma sinopse dessas, começar a acompanhar a obra é sempre um ato de pisar em ovos. Logo de cara, você se vê imerso numa atmosfera de grande melancolia, mas não é uma melancolia aquecedora, é uma melancolia dolorosa. Entretanto, nessa melancolia dolorosa há muita beleza. Essa sensação acontece tanto no anime quanto no mangá. Inclusive, a adaptação é muito fiel; todas as coisas que acontecem no anime também acontecem no mangá, a única diferença é que nos quadrinhos as divagações e reflexões dos personagens são mais acentuadas. O anime acaba focando mais nas ações, enquanto o mangá dá um espaço maior para o desenvolvimento das emoções e pensamentos dos personagens. Por causa disso, algumas coisas acabam sendo mais impactantes no mangá. 

     Falando mais especificamente do anime, se por um lado são priorizadas as ações, a parte técnica ajuda muito a lidar com as sensações e os sentimentos envolvidos. As cores, os ângulos, os focos, até mesmo os cortes de cena.... Tudo ajuda a construir a atmosfera de melancolia dolorosa com o qual você se acostuma e se vê imerso. Não é reconfortante, mas é muito bonito e agradável não só como narrativa, mas também como mídia visual. A trilha sonora também é muito bem escolhida, desde as músicas de fundo das cenas até a abertura e o encerramento, também muito bonitos e cujas letras das músicas se encaixam perfeitamente com os personagens e o tipo de relações nas quais eles estão envolvidos. 

    Kuzu no Honkai tem essa atmosfera melancólica, dolorosa e bela que, em alguns momentos pode até se tornar aquecedora. A história também é capaz de te refazer refletir sobre algumas questões, nem que seja apenas com relação à narrativa, já que o enredo não fica apenas no plano do amor não correspondido. Apesar de, obviamente, amor não correspondido ser um dos cernes de Kuzu no Honkai, conforme a narrativa se desenvolve entra em cena um outro fator: a naturalização das ações humanas. 

      Algumas vezes, alguns escritores, tratam de assuntos polêmicos ou perversos de forma naturalizada. Para mostrar o quão cruel aquela atitude, os autores fazem com que a atitude, normalmente condenada pela sociedade ou antiética, seja aceita por um personagem, um grupo de personagens ou simplesmente não seja grandemente relevante ou problematizada no enredo da obra. Isso acontece um pouco nas Narrativas Libertinas, onde o protagonista da história realiza um grande número de ações imorais ou ilegais sem nunca ser pego ou sentir culpa. E também aparece em alguns contos de Machado de Assis, como O Caso da Vara, por exemplo. Kuzu no Honkai está mais para a naturalização da violência de O Caso da Vara do que para as Narrativas Libertinas.

O que acontece em Kuzu no Honkai é o seguinte: Lembra-se que o título da obra é Desejo da Escória? Então, por causa de seus amores não correspondidos e pelas relações que têm com esses amores, os personagens fazem muita bobagem. Assistir o anime é um grande exercício porque não existe, de fato, um vilão na história. Todos os personagens são egoístas, só pensam neles mesmo e machucam a si mesmos e aos outros o tempo todo. O que está em questão não é se as atitudes dos personagens são certas ou erradas, mas sim o que as pessoas são capazes de fazer por amor, obsessão, desespero, solidão e outros tipos de sentimentos. Obviamente, você enquanto expectador não vai gostar de todos os personagens — talvez você não goste de nenhum — nem precisa apoiar as decisões deles — você não vai e não deve apoiá-las —, mas a questão é que tudo é naturalizado. A partir de um determinado momento, tudo começa a depender da perspectiva do próprio expectador. Todos são culpados, todos fizeram coisas erradas e se alguém é pior ou não, aí é você quem decide. 

      Para esclarecer um pouco mais essa questão, é necessário falar um pouco sobre os personagens mais relevantes. Infelizmente, é impossível falar de Kuzu no Honkai sem dar spoiler, portanto, se você quiser parar por aqui, sinta-se à vontade.

Comecemos pela protagonista, Yasuraoka Hanabi, a tola. Apaixonada pelo professor Kanai, amigo de sua família que a considera uma irmã mais nova, Hanabi se vê em uma relação física com Mugi para aliviar sua solidão. Melancólica e solitária, ela quer ser tocada, quer consolo para sua tristeza por saber que nunca terá a menor chance com Kanai. Apesar de parecer, inicialmente, uma coitada que só sofre, em um determinado momento da narrativa ela também começa a fazer bobagem — como se já não fosse bobagem o bastante “se agarrar” com Mugi enquanto pensa em Kanai. Ao descobrir a verdadeira personalidade de Akane, Hanabi resolve tentar vencê-la em seu próprio jogo, embora não tenha a menor vocação para isso. A uma certa altura da narrativa ela admite ter medo da solidão e se sentir vazia quando não está sendo tocada; Hanabi é egoísta e age por impulso, o que a leva a se envolver com sua melhor amiga, usando-a tal qual usa Mugi. 

      Awaya Mugi, o malicioso. Há dentro de Mugi uma espécie de perversidade que vai se mostrando lentamente no desenvolver da narrativa. Assim como os demais personagens ele tem a marca do egoísmo, mas não é só isso, ele tem uma espécie de quase maldade. De uma certa forma, Mugi não se importa de usar as pessoas ou mesmo os sentimentos delas por ele, mas acaba nem sempre concluindo suas ações. Sua relação com Hanabi não é a primeira a soar torta e nada saudável em sua vida. Entretanto, ele ama Akane de uma forma as vezes quase ingênua. 

Minagawa Akane, a perversa. Akane é, com certeza, uma das personagens mais odiadas de Kuzu no Honkai, embora há quem diga que ela é a única honesta. Bom, independente de gostar dela ou não, é inegável que sua personalidade é muito bem construída, talvez uma das mais bem construídas do anime. Akane é uma mulher linda e confiante, de aparência pura e doce, capaz de ter o homem que quiser. Porém, apesar de confiar muito bem em seu próprio taco e ter certeza que é capaz de deixar qualquer homem a seus pés, Akane não tem uma autoestima tão alta assim. Sendo mais exata, Akane não ama a si mesma.

      Minagawa só é capaz de se definir através do desejo dos homens e da inveja das outras mulheres. A prova de que ela é bela e desejável está no fato de que um homem, desejado por outra mulher, a deseja. Resumindo: por mais sem graça que um homem possa parecer a seus olhos, ele se torna imediatamente interessante para ela a partir do momento em que Akane percebe que outra mulher o ama. Ela precisa sentir que está tirando algo de alguém para sentir que possuí, de fato, algum valor.  Akane gosta de receber a fúria e a inveja das outras mulheres, ela gosta de fazê-las chorar por terem sido preteridas. Minagawa Akane é egoísta, não se importa com ninguém além de si mesma e só sabe ser assim. Entretanto, justamente por ser desse jeito é que ela a personagem que nunca decepciona. Ela é previsível, você sempre sabe o que ela vai fazer. Portanto, não foi surpresa nenhuma seu envolvimento com Kanai.

      Narumi Kanai, o adepto ao NTR. Kanai é um homem gentil e tímido, um jovem professor de literatura. Ele se apaixona à primeira vista por Akane e não sabe muito bem como se declarar para ela. Apesar de ser o personagem mais sem graça, surpreende muito uma vez que conhece a conduta de Akane a aceitando sem pensar duas vezes. Mesmo quando ela diz que irá traí-lo, Kanai simplesmente não se importa. Algo meio inesperado partindo da primeira imagem que se tem do personagem. 

Para tornar a narrativa ainda mais complicada, fora os quatro primeiros envolvidos existem outras duas personagens. Ebato Sanae, a desesperada. Melhor amiga de Hanabi, Ecchan é a definição e tradução da palavra desespero. Apaixonada por Hanabi, ao perceber que a amada não gosta de Mugi, Ecchan se voluntaria para ser a substituta que Hanabi precisa. Apesar de relutar, Hanabi aceita se relacionar com Ecchan e daí para frente Ebato vai ladeira à baixo. Ecchan prefere ter uma relação tóxica e doentia com Hanabi a não ter relação nenhuma. Ela se nega a deixar Hanabi ir, se nega a cortar relações, não importando o fato de Hanabi amá-la ou não. Sanae entra em uma espiral de desespero e começar a ter atitudes cuja palavra impulsiva não é capaz de descrever. Mesmo assim, apesar de amar Hanabi, as portas do coração de Ecchan estão sempre fechadas e no fim das contas ela também está sempre sozinha. 

         A última pessoa envolvida em todo esse bolo de melancolia e dor é Kamomebata Noriko, a coitada. Apesar de ter uma conotação meio forte, “coitada” é a palavra que mais descreveria Noriko, juntamente com “boba”. A garota que prefere ser chamada de Moka é amiga de infância de Mugi e apaixonada por ele há muito tempo. Muito bonita e fofa, Moka tenta viver uma espécie de conto de fadas no qual Mugi não está nem um pouco interessado em ser o príncipe. É uma personagem irritante, mas é uma das que faz menos bobagem ao longo da história. Moka é vítima dos outros e de si mesma. Seu amor por Mugi a faz deixar de lado suas convicções e as coisas que deseja para si mesma, ela sofre por saber que ele é incapaz de amá-la. Moka é importante para Mugi, por isso ele reluta em se envolver com ela, entretanto, se não pode tê-lo, ser importante de nada vale para ela. 

     Esses seis personagens se veem envoltos em uma atmosfera melancólica e dolorosa, na qual eles sofrem cada vez mais machucando uns aos outros e a si mesmos, porém, toda essa melancolia dolorosa é absurdamente linda. Kuzu no Honkai é poesia, não só nos momentos dolorosos, mas principalmente nos momentos em que a melancolia se torna tépida. Além de execução técnica, a obra tem um clima agradável, por mais impossível que isso parecer. É uma narrativa interessante de se acompanhar, que acaba te fazendo refletir sobre algumas questões e também pode te fazer sentir muita raiva dos personagens. A questão em Kuzu não é ser bom ou ruim, é só ser, só agir, fazer qualquer coisa, por pior que essa atitude seja, e tudo acaba sendo relativizado já que todo mundo é errado mesmo.

       Acompanhar Kuzu no Honkai é um exercício: lembrar que ninguém é um vilão, sentir raiva dos personagens que você não gosta, então sentir raiva dos personagens que gosta porque eles também estão fazendo bobagem.... É ficar imerso numa melancolia dotada de muito sofrimento, que acaba se desdobrando em mais sofrimento, até se tornar uma atmosfera tépida. No final de tudo, você acaba sentindo uma espécie de tristeza aquecedora quase esperançosa. Kuzu no Honkai é uma daquelas obras que faz com que seja possível afirmar que existe beleza no choro, na dor, no desespero e na melancolia.
“Eu não sei como é beijar alguém que eu amo. ”


Resenha: Sangatsu no Lion

“Eu gosto do rio.
Não existem muitas coisas que eu goste...
...mas quando vejo uma grande quantidade de água junta,
eu entro em um transe enquanto minha mente se esvazia.”

          O shogi é um jogo que poderia ser considerado a versão japonesa do xadrez; assim como neste, peças são dispostas em um tabuleiro e os jogadores têm como objetivo impedir que o rei adversário se movimente e, então, derrota-lo. O jogo, muito mais recorrente nas tramas de mangás e livros de literatura japonesa do que um primeiro olhar sugere, é peça central do enredo de Sangatsu no Lion. 

     Não é incomum se deparar com uma história sobre jogadores de futebol, de basquete ou de vôlei, mas Sangatsu conta a história de um jogador de shogi. Kiriyama Rei tem dezessete anos e é um jogador profissional de shogi pertencente ao rank C-1, 5º dan. O garoto reside, sozinho, em uma cidade situada ao longo de um grande rio. Rei tem um passado marcado por momentos recheados de tristeza, para não dizer traumáticos, que o transformaram em um garoto solitário e melancólico. Sangatsu no Lion, adaptado a partir de um mangá de mesmo nome de autoria de Chica Umino, relata o quotidiano de Rei, a maneira como ele lida consigo mesmo, seu passado e suas relações com uma família de três irmãs que possuem um grande número de gatos.

     O anime de Sangatsu, que conta com 22 episódios, foi exibido de outubro de 2016 a março de 2017 e já tem segunda temporada confirmada para outubro desse ano. Um live action que será divido em duas partes também irá ao ar ainda no primeiro semestre de 2017.

         Sangatsu no Lion é um anime que poderia ser facilmente descrito pela palavra “bonito”, embora essa não seja a única qualidade que a série apresenta. A narrativa tem, em seu início, um tom melancólico, mas ao mesmo tempo acolhedor que acaba por envolver completamente o expectador. Assistir Sangatsu é sempre uma boa experiência, quase uma contemplação e você termina o episódio sempre com o coração aquecido. 

     O enredo é construído de uma forma a tornar tudo muito belo e a parte técnica se adequa perfeitamente à proposta da trama. O character design é muito bonito, não deixando a desejar se comparado ao mangá; as cores utilizadas são bem escolhidas e contribuem bastante para transmissão das sensações da cena que se desenrola; a trilha sonora é muito boa. Além de sonoramente agradáveis, as aberturas e os encerramentos casam muito bem com a ideia que o anime transmite e tudo se encaixa; e as cenas das metáforas, onde o Rei se submerge em água e se afoga, demonstrando o quão complicado são seus sentimentos e pensamentos, ou caminha em meio à uma grande quantidade de neve, o que demanda muito esforço... tudo é absurdamente lindo. A execução técnica serve para tornar a experiência do enredo mais completa e mais bela.

    No que diz respeito ao enredo propriamente dito e seu desenvolvimento, tudo anda bem devagarinho, mas com uma evolução constante. Sangatsu tem personagens muito bons: alguns deles são muito carismáticos e nos que falta carisma, sobra malícia. De uma forma ou de outra, a maioria dos personagens consegue causar alguma impressão e, muitas vezes, essa impressão é bem forte. 

           A começar pelo próprio protagonista, Kiriyama Rei, um garoto solitário, melancólico, sem amigos e, obviamente, com vários problemas internos a serem resolvidos. Ele é muito sozinho desde de criança e acabou se envolvendo com o shogi para poder jogar com o pai. Rei se questiona em alguns momentos do porquê continuar jogando shogi; em outros sua cabeça parece um mar de confusão e ele afunda e se afoga dentro de si mesmo. São nessas horas que ocorrem as cenas em que ele submerge nas águas, como se afundasse no mar. É uma imagem muito bonita e muito representativa, que demonstra muito bem a forma com ele se sente.

     Talvez por causa de tudo pelo que o Rei passou, talvez por ele ser tão jovem, talvez pelo jeito tímido dele e pela ideia não tão boa que ele faz de si mesmo, Rei desperta um sentimento de proteção e afeto. Você quer vê-lo bem, você quer vê-lo feliz... E ele evoluí muito entre o primeiro e o último episódio. Rei melhora um pouquinho mais a cada dia, aprendendo mais sobre si, sobre os outros, sobre o que quer fazer... É um protagonista que convence.  Talvez seja por isso, também, que ele desperte a simpatia nas irmãs Kawamoto.

    Apesar de muito sozinho, Rei acaba conhecendo e se aproximando de uma família composta por três irmãs — Akari, Hinata e Momo — e um avô. Kawamoto Akari é a mais velha das irmãs. Ela trabalha no bar da tia e na loja de doces do avô. Além de ser uma mãe para as irmãs mais novas, Akari é absurdamente gentil e atenciosa. É ela quem se aproxima de Rei e o coloca em contato com sua família.

     A irmã do meio é Kawamoto Hinata, mais conhecida como Hina, uma estudante do fundamental II com uma personalidade muito animada. Hina é um pouco barulhenta e até mesmo exagerada, o que faz com que as cenas em que ela aparece sejam muito divertidas e agitadas.

     A terceira irmã é Momo, uma garotinha que ainda frequenta o jardim de infância. Ela é simplesmente tão fofa quanto os gatos de sua casa e a maneira como ela tem carinho e interage com o Rei é muito bonitinha de se ver.

     Entretanto, a família Kawamoto não é a única com a qual Rei está envolvido; outra família presente na vida de Rei são os Kouda, com quem ele viveu por vários anos de sua vida. Masachika é o chefe da família e professor de shogi de Rei. Era amigo do pai de Rei e se interessou pelo garoto quando percebeu que ele possuía talento para o shogi. É muito exigente com seus filhos, Kyouko e Ayumu, no que concerne ao shogi; por causa disso sua relação familiar é bastante abalada.

            Kyouko é a filha mais velha da família Kouda e possuí uma malícia no olhar e nas palavras capazes de causar uma grande impressão. Impressão essa que é agravada por conta da sua beleza. Kyouko é, num primeiro olhar, uma personagem muito forte, mas ela tem muitos problemas, sendo um deles o relacionamento com o pai. Ela tem uma relação um pouco confusa com Rei, a quem deveria considerar um irmão mais novo, por ele ser melhor no shogi e ter conseguido se tornar um profissional, ganhando assim o respeito do pai de Kyouko. 

     Além das famílias Kawamoto e Kouda, o elenco de Sangatsu no Lion conta, ainda, com os jogadores de shogi. Destes, dois merecem destaque: Harunobu Nikaido e Kai Shimada. Nikaido é um garoto que joga contra Rei nas competições de shogi desde que ambos eram pequenos. Ele se autodeclara “melhor amigo” de Rei. Apesar de ser muito barulhento, efusivo e exagerado, Nikaido é deveras um bom companheiro para Rei e se preocupa de verdade com o garoto. Ele também tem um lado um pouco convencido demais que acaba por desembocar em vários escapes cômicos.

     Kai Shimada, por sua vez, é um homem educado que aparenta ser bem calmo. Jogador habilidoso, ele promove oficias que ajudam jogadores a melhorar no shogi e trabalhar seus pontos fracos. É muito admirado por Nikaido e, apesar de no início parecer ser só mais um dos jogadores, Shimada se mostra um grande personagem. 

      Esses personagens e todos os outros contribuem para que Sangatsu no Lion seja uma história bonita e aquecedora. Todo o conjunto da obra é muito bonito, muito poético. O trabalho da obra é feito de forma muito esmerada, envolvendo, tocando e aquecendo o coração do expectador. A evolução do Rei ao longo da narrativa e a forma como ele se relaciona com o mundo é algo muito interessante de se acompanhar. Você se apega ao protagonista e seus companheiros, se envolve e se diverte com eles. 

    Sangatsu no Lion foi um dos animes mais prazerosos de se acompanhar das últimas temporadas. Capaz de fisgar o expectador, a cada episódio você se vê mais envolvido no universo de Sangatsu que mistura doses de humor com momentos de reflexão mais sérias. Assim como Rei submerge nas águas de suas emoções e pensamentos, o expectador afunda-se nas águas da narrativa de Sangatsu, de onde observa o desenrolar do cotidiano do protagonista, saindo delas de alma lavada e coração aquecido.



Resenha: Udon no Kuni no Kiniro Kemari

     A temporada de outubro desse ano contou, como sempre, com uma infinidade de títulos dos mais variados temas, estilos, gêneros e demografias; dentre as séries estreantes nesse período encontra-se o divertido e levinho Udon no Kuni no Kiniro Kemari, que chegou para ocupar o posto de “bálsamo” da temporada. O anime foi adaptado a partir de um mangá de mesmo nome escrito por Nodoka Shinomaru. 

    A história gira em torno de Tawara Souta, um web designer residente de Tóquio que retorna para sua terra natal após a morte de seu pai com o intuito de organizar a casa onde crescera para poder vendê-la. O pai de Souta fora responsável a vida toda por um restaurante de udon (um tipo de macarrão grosso feito com farinha); quando está organizando a parte da casa onde o falecido pai preparava seu o udon, Souta acaba por encontrar uma criança. Após confrontar a criança, Souta descobre que se trata não de uma criança humana, mas de um guaxinim; entretanto, ainda assim ele decide deixar o trabalho para continuar a cuidar do menino, Poco. Assim, os dois começam a viver juntos e, ao cuidar de Poco, Souta começa a reviver as memórias de sua infância e a compreender melhor a relação que tinha com o pai.


   Udon no Kuni é uma narrativa muito gostosa de se acompanhar; a história é levinha, divertida, mas sem deixar de levantar umas questões interessantes referente aos personagens. É muito bonita a forma como Souta se encarrega de Poco, formando uma verdadeira família com o menino, enquanto rememora seus tempos de criança e a relação que tinha com o pai e com a própria família.

   Além da relação de puro amor existente entre Souta e Poco, os demais personagens da série também são super carismáticos e muito divertidos. Desde a irmã mais velha de Souta, Rin, que não tem o menor jeito com crianças; passando por Nakajima, melhor amigo do protagonista, hoje um médico meio mal-humorado; até Mai Manabe, antiga paixão de Souta, agora mãe de um menino e uma menina, que sempre ajuda o protagonista a lidar com toda a situação de criar uma criança.

      Uma das coisas mais legais em Udon no Kuni é, sem dúvidas, a relação de Souta e Poco. Os dois são, verdadeiramente, uma família. Souta se torna um pai absurdamente preocupado com seu filho, Poco, e para ele não importa se este é uma criança ou um guaxinim. Quanto mais o tempo passa, mais apegados eles ficam um ao outro, se entendo cada vez melhor e o expectador vai sendo conquistado cada vez mais por essa família levemente inusitada. 

   O anime contou, ao todo, com doze episódios compostos de muita fofura, humor e, algumas vezes, umas cenas emocionantes. Udon no Kuni é mais um daqueles animes para você assistir e relaxar, sem grandes preocupações ou questionamentos, muito divertido e gostoso de se acompanhar.



Resenha: Bungou Stray Dogs S2

     A primeira temporada de Bungou Stray Dogs foi ao ar em abril de 2016 e se encerrou com um episódio que deixou todos aqueles que haviam gostado do anime ansiosos para a próxima. Em outubro do mesmo ano, eis que a série retorna com um caráter surpreendentemente mais sério e cheia de emoções. 

    Para quem ainda não conhece, Bungou Stray Dogs gira em torno da Agência de Detetives Armados, uma organização composta por membros com poderes especiais que lidam com casos deveras perigosos mesmo para a polícia ou para as forças armadas. Curiosamente, todos os personagens da série possuem nomes de famosos escritores tanto ocidentais quanto orientais.

    Logo no primeiro episódio dessa segunda temporada ocorre uma quebra de expectativa; quem esperava que tudo começasse com o foco na Agência de Detetives Armados se surpreendeu ao ver as cenas que se desenrolavam diante de seus olhos: elas pertenciam ao tempo em que Osamu Dazai ainda era um membro da Porto Mafia. Neste episódio também são apresentados dois novos personagens Sakaguchi Ango e Oda Sakunosoke que serão absurdamente importantes nos primeiros quatro episódios da nova temporada e também reverberarão em alguns episódios posteriores.

    A segunda temporada de Bungou Stray Dogs poderia ser caracterizada pela palavra “surpreendente”; ao final de cada episódio o expectador se vê colado na cadeira ansioso por descobrir o que virá a seguir. Nesta temporada houve uma diminuição nas cenas de humor características, mas sem perder a mão ou deixar o clima do anime mórbido ou chato. A série se apresenta desta vez com um caráter mais sério, sejam pelos relatos dos tempos de Dazai na Porto Mafia, seja pela presença de um novo inimigo comum: A Guilda.

    Diferente da temporada anterior onde a maioria dos confrontos se davam entre membros da Agência de Detetives Armados e da Porto Mafia, na segunda temporada surge um novo inimigo, A Guilda.

        A organização tem, além de outros objetivos, um grande interesse no trigromen e é composta por, atenção aos nomes dos escritores que apareceram nessa temporada: Francis Scott Key Fitzgerald, líder da organização e portador do poder “The Great Gatsby”; Lucy Maud Montgomery, uma órfã maltratada por seus cuidadores que nunca se recuperou de seu trauma, resultando em uma personalidade psicótica. Seu poder é “Anne of Abyssal Red”; Margaret Mitchell, uma mulher arrogante que olha de cima qualquer pessoa, sua habilidade chama-se “Gone with the Wind”; Nathaniel Hawthorne, sócio de Margaret, é um homem de Deus que carrega sua bíblia pra onde quer que vá, seu poder é conhecido como “The Scarlet Letter”; John Steinbeck, parceiro de HP Lovecraft, é um fazendeiro tranquilo e descontraído que vem de uma família de fazendeiros da América do Norte, possuí a habilidade “The Grapes of Wrath”; Howard Phillips Lovecraft, é apresentado como um homem bizarro, que por vezes nem parece humano, embora se distraia facilmente com coisas simples. A habilidade de Lovecraft é conhecida como “The Great Old Ones”; Mark Twain, cuja habilidade denomina-se “Huckleberry Finn & Tom Sawyer”; Louisa May Alcott, a estrategista da guilda utilizadora do poder “Little Woman”; Herman Melville, o membro mais velho da Guilda dono do poder “Mob-Dick; e Edgar Allan Poe, conhecido por sua habilidade “Black Cat in the Rue Morgue”.   

    O design dos personagens — de todos, sem exceção —  é muito bonito e uma das mais coisas mais divertidas de assistir o anime é ficar pensando quem é aquele novo personagem que acaba de aparecer. Isso sem contar às referências que fazem aos autores tanto na denominação das habilidades, quanto no desenvolvimento das personalidades destes.
   
     A segunda temporada do anime não só supriu e alcançou todas as expectativas que a primeira havia instigado, como também deixou todos que acompanharam a série ansiosos para uma próxima. Nessa temporada ocorreu, ainda, uma melhora considerável na animação, o que deixou o lado visual ainda mais agradável. A trilha sonora também não fez feio, nem deixou a desejar.

    Em suma, foi muito prazeroso acompanhar a segunda temporada de Bungou Stray Dogs, com novos personagens, grandes emoções e um tom mais sério que o da anterior, mas sem perder o toque característico da obra. O último episódio deixou, mais uma vez, uma grande expectativa para uma próxima temporada que todos esperamos que venha o mais logo possível.




Resenha: Amaama to Inazuma

      Ah, os bálsamos da temporada!!! Não importa o ano, não importa a estação, não importa o mês em que se inicia, toda temporada vai ter pelo menos um anime balsâmico. Mas o que seria um anime balsâmico? Bom, como a própria palavra já diz, é aquela série que veio para te curar. Sim, exatamente, para te curar de todo estresse, todo o tédio e todos os sentimentos ruins que podem habitar seu coração durante a semana. Esse é o caso de Amaama to Inazuma. 

    Amaama to Inazuma é, originalmente, um mangá seinen de slice of life escrito e ilustrado por Gido Amagakure que conta a história de um pai e sua filha. Inuzuka Kouhei é um professor que ficou viúvo a não muito tempo e que, agora, tem a difícil missão de cuidar de sua filhinha, Tsumugi. Entretanto, Kouhei não é muito bom na cozinha e, por conta disso, ele e Tsumugi acabam se alimentando de comidas compradas em lojas de conveniência. Até que um dia, uma série de eventos acabam por leva-lo até o restaurante da mãe de Iida Kotori, uma de suas alunas. A dona do restaurante não se encontra presente, mas Kotori se esforça ao máximo para servir os dois. Acontece que Kotori tem passado muito tempo sozinha desde que seus pais se divorciaram e sua mãe quase nunca está por perto; o desejo que a garota tem de cozinhar coisas gostosas e se tornar mais competente na cozinha, se soma à vontade de Inuzuka de aprender a cozinhar para sua filha. Os três, então, começam a se encontrar para preparar deliciosas comidas juntos. 

   Olhando o enredo por cima talvez a história não pareça grande coisa, mas Amaama to Inazuma é genuinamente um anime de culinária e fofura. Sim, se você procura por uma série em que os personagens cozinhem sem que durante o preparo das receitas ou a prova delas haja algum close que contenha, claramente, uma conotação sexual, esse anime é para você. Tsumugi, Inuzuka e Kotori cozinham juntos, apenas cozinham, de um jeito normal, fofo e, por vezes, engraçado. Além da culinária o anime também aborda a forma como Tsumugi se relaciona com seu pai e seus colegas do jardim da infância, o que é bem interessante uma vez que acaba por abordar a perspectiva infantil e adulta da situação. 


   E por falar em Tsumugi, a garotinha é uma joia preciosa, absurdamente fofa, a definição de “sorriso que precisa ser protegido”. Ela é uma criança ainda pequena, muito animada e empolgada; as vezes ela faz um pouco de birra, ou fica irritada com alguma coisa, enfim, ela age como uma criança normal. Essa é uma coisa muito boa em Amaama to Inazuma, Tsumugi não é uma criança ficcional cem por cento boazinha, as vezes ela erra como qualquer criança comum; mas no fim das contas tudo sempre dá certo entre ela e seu pai. 

   O professor Inuzuka, por sua vez, é uma pessoa muito esforçada. Ele dá duro no trabalho e em casa, fazendo de tudo para tornar os dias de Tsumugi os melhores possíveis para que ela cresça contente, feliz e saudável. Ele é um paizão, sério. Dá para sentir em cada cena o quanto a Tsumugi é preciosa para ele, a relação dos dois é só amor e Kotori chega só para tornar tudo ainda melhor.

   Iida Kotori é uma estudante do ensino médio cuja mãe é uma famosa dona de restaurante. Ela gosta muito de comer e de cozinhar coisas gostosas e, apesar do seu jeito meio calado, é muito gentil e dedicada. Quanto mais o tempo passa, mais Kotori se envolve com Inuzuka e Tsumugi, os três acabam formando uma espécie de família mesmo, é muito legal. As cenas em que os três cozinham juntos são sempre muito divertidas.

 
 Amaama to Inazuma é, num todo, um anime muito leve. Ele é fofo, divertido, engraçado e, em algumas cenas, emocionante. É muito gostoso acompanhar a série e ver como as relações vão se desenvolvendo, como os personagens lidam com as situações que aparecem e uns com os outros. O visual é muito bonitinho e a trilha sonora combina muito bem com o clima fofo do anime, embora a animação as vezes deixe um pouquinho a desejar. Ainda assim, assistir o anime te deixa tão leve, tão animado e tão feliz que os detalhes técnicos acabam ficando em segundo plano.


   Amaama to Inazuma é aquele anime cuja função é divertir e aquecer seu coração; leve, fofo e divertido, recheado de sorrisos da Tsumugi, um verdadeiro bálsamo!





Resenha: Re: Zero Kara Hajimeru Isekai Seikatsu


    Vez por outra, no maravilhoso (ou nem tanto) mundo do entretenimento, aparece alguma obra que causa uma grande comoção. Uma daquelas que dá, literalmente, muito o que falar. Esta obra pode ser um filme, um livro, uma música, uma banda ou um anime, por que não? De tempos em tempos aparece aquele anime que todo mundo comenta, que a grande maioria assiste e cujos comentários sobre são, em sua maioria, positivos. O famigerado anime que une todas as tribos. Esse é o caso de Re: Zero Kara Hajimeru Isekai Seikatsu. 

    Estreante da temporada de abril desse ano, Re Zero foi muito assistido e, obviamente, muito comentado. A história é originalmente uma série de light novel escrita por Tappei Nagatsuki e ilustrada por Shinichirou Otsuka; a série conta, atualmente, com oito volumes publicados. O enredo gira em torno de Natsuki Subaru, um jovem que é subitamente invocado para um mundo desconhecido. Sem ter a menor noção do que fazer ou para onde ir nesse misterioso local, Subaru acaba por conhecer uma jovem meio-elfa de cabelos prateados. Não muito tempo depois os dois são assassinados; então, Subaru acorda e descobre quem tem a habilidade de “retornar pela morte”. Sempre que morre o garoto acorda em um ponto anterior ao dos acontecimentos que lhe levaram ao trágico final, ele retém todas as suas lembranças até o momento que morreu, porém somente ele sabe das coisas que aconteceram e que ainda estão por vir. Após voltar no tempo pela primeira vez, Subaru decide que fará de tudo para salvar a garota de cabelos prateados.

    Num primeiro olhar Re: Zero não tem nada de mais; é um enredo que não foge muito de uma grande gama de coisas que encontramos por aí. Entretanto, desde já adianto que Re: Zero tem alguns toques especiais. Primeiramente, preciso deixar claro que é bem difícil para mim falar desse anime. Eu assisti os vinte e cinco episódios; durante e depois de assistir tudo refleti muito sobre minha opinião com relação à obra em si. Creio que, mesmo agora, ela ainda esteja se firmando. Cada vez que relembro toda a trajetória do anime e as sensações que ele me causou compreendo melhor o que penso sobre a obra.

Para começar, vou tentar fazer um balanço das minhas impressões sobre o enredo do anime. Um apanhado geral para depois discutir alguns outros pontos. Comecemos pelo começo, então. Quando fiz minha lista de animes da temporada de abril Re: Zero não estava entre eles. A sinopse não me chamou a atenção, eu já estava com muitos animes na lista, apenas passei por cima. Então, o anime estreou. Vi várias pessoas comentando sobre o primeiro episódio, em especial sobre a atitude do protagonista. Acabei ficando curiosa e fui conferir. A minha impressão do primeiro episódio foi: legal. Foi um episódio com uma boa animação, introduzindo a história da narrativa e um final com um gancho capaz de deixar o telespectador curioso. Quanto ao Subaru, também não tinha nenhuma opinião grandiosa. Ele parecia meio idiota, só. Em suma, era legal, mas nada espetacular.  Na semana seguinte assisti o segundo episódio, que não me empolgou nem metade do que o primeiro. Pensei “é, vai ficar só nessa dele morrendo e voltando para tentar salvar a garota mesmo...”; então, veio o terceiro episódio. Esse me empolgou. Teve ação, enfim uma batalha verdadeiramente boa, e a bela garota de cabelos prateados ganhou mais destaque deixando a posição passiva na qual, até então, estava sendo deixada. Fiquei feliz ao perceber que a história seria menos repetitiva do que eu havia pensado, eu estava enganada, ainda bem. Então, veio o episódio quatro e cinco e vi Subaru ficar preso num arco de repetição péssimo para ele. Entretanto, do quarto ao sexto episódio, a história não havia me tocado. Era tecnicamente bem executado, eu entendia o sofrimento do Subaru, mas faltava alguma coisa; talvez pelo fato de minha relação com Subaru ficar entre a indiferença e a antipatia. A chegada do episódio sete serviu para dar uma sacudida nas coisas; o final do sétimo episódio foi bom o suficiente para me deixar consideravelmente curiosa para o próximo. Os episódios seguintes também me agradaram, embora não alcançassem o mesmo impacto que o sétimo. Ainda assim, foram episódios nos quais não percebi o tempo passando. No episódio doze o anime entrou em uma nova fase e, é logo depois disso, que a história entra num patamar cujo adjetivo bom se torna, definitivamente, justo. Os episódios referentes à seleção real na capital não foram os meus favoritos, entretanto foi a partir deles que minha antipatia pelo protagonista aumentou. Mais do que isso, minha indiferença desapareceu e eu comecei a sentir raiva, de fato, do Subaru. Ele me irritava o tempo todo. Porém, é a partir do episódio quinze que as coisas dão uma guinada de vez, culminando no episódio dezoito que é genuinamente bom. Este episódio, o episódio de número dezoito, é inegavelmente bom. A trilha sonora, os diálogos, a emoção que é passada, a tensão.... Tudo é feito para tocar o expectador e consegue. Os episódios seguintes, apesar de não tão avassaladores, também são satisfatórias. Terminando sempre de uma forma que te deixa curioso para assistir o próximo. Nesse recurso, destaque para o episódio vinte e quatro que tem um plot twist que pode ser esperado, mas que causa um impacto quando acontece. Em resumo, a trajetória da narrativa de Re: Zero é evolutiva. Ainda que a história não seja a melhor do mundo, ela é evolutiva e tem recursos capazes de prender a atenção.

     Pensando na narrativa enquanto enredo, como já disse, não é nada espetacular. Inclusive, tem algumas falhas visíveis, e não estou me referindo a coisas que ainda podem ser corrigidas nos volumes posteriores da série. Como exemplo é possível citar a personagem Felt. Ela aparece nos primeiros episódios, desaparece, retorna no episódio da seleção real e, mais uma vez, some sem deixar vestígios. Ainda no plano do sumiço temos o desaparecimento da personagem Rem, já nos últimos episódios, sem nenhuma explicação de para onde ela foi.

     Um outro aspecto que sempre me incomodou em Re: Zero é o fato do Subaru amar a Emilia, a garota de cabelos prateados, sem nenhum motivo aparente. Não adianta tentar justificar, no fim das contas a ideia passada é que ele a ama porque ela é bonita, nada além disso. A posição passiva em que Emilia é colocada também acaba me desagradando um pouco. A garota tem potencial, ela é capaz de cuidar de si mesma, mas acaba ficando sempre apagada, tendo grandes cenas em pouquíssimos momentos.

Pensando o enredo num todo, de uma certa forma, ele é uma grande salada. Tem elfos, tem empregadas, maldições, bruxa misteriosa, culto religioso... Tem de tudo para todos os gostos. Porém, talvez eles se conversem e se equilibrem de alguma forma.

Entretanto, se o enredo de Re: Zero não é um dos mais bem trabalhados do mundo, os personagens são um aspecto mais bem feito. Assim como a trajetória da história, os personagens de Re: Zero também são evolutivos. Eles se desenvolvem. Não todos, claro, mas alguns e isso já é algo bom o bastante. Pensemos, por exemplo, a Rem. A garota aparece logo na primeira metade da narrativa juntamente com sua irmã, Ram. Aos olhos de todos Rem não passava de uma personagem secundária, mas ela cresce de uma forma maravilhosa. A garota se torna mais densa, mais importante e conquista o público de uma forma incrível.

     Outro personagem que também se desenvolve é o próprio protagonista. Ele me fez passar do desinteresse para a implicância, então a raiva, e mesmo assim me fez torcer por ele. Particularmente, ainda não gosto muito do Subaru, mas ele é capaz de causar reações. As pessoas gostam ou desgostam dele, isso é bom. Causar reações e sensações no público significa que o personagem é mais complexo, é sinal de que ele é capaz de fazer o expectador pensar sobre ele e seu papel na narrativa. É uma das coisas que caracteriza um bom personagem.

   Em Re: Zero, nem todos os personagens são desenvolvidos, mas quando ocorre o desenvolvimento ele é bem feito. Esse é, para mim, um dos melhores pontos da narrativa. Foi isso que fez com que eu não abandonasse a história, mesmo quando não estava totalmente convencida por ela. 

    Outra coisa que eu gosto em Re: Zero é a grande quantidade de boas personagens femininas que a história possuí. Rem, a empregada da mansão que acaba por roubar a cena completamente; Emilia, a meio-elfa que apesar de parecer estar sempre meio apagadinha tem momentos que acentuam uma personalidade; Beatrice, a responsável pela biblioteca da mansão, com um humor nem sempre muito bom; Crusch, uma das candidatas à seleção real, com um semblante e atitudes duronas, mas uma pessoa fantástica... E por aí vai. São personagens femininas boas, elas não são apenas objeto decorativo. Pensando na imagem inicial que Re: Zero me passou, isso me soou, no mínimo, surpreendente.


     De uma forma geral, Re: Zero ganha o status que têm por conta, justamente, desse fato: a surpresa. Num primeiro olhar, não é comum se esperar muita coisa de Re: Zero. A obra é evolutiva. Evolutiva enquanto narrativa, evolutiva enquanto desenvolvimento de personagem, evolutiva com relação aos finais dos episódios... Depois do quinze, o fechamento do episódio sempre acaba te deixando ansioso para o próximo. Isso é ótimo para uma série que ainda está em lançamento. Dessa forma o anime ganha o público, as pessoas querem saber o que vai acontecer. Esse é um mérito que não se pode tirar de Re: Zero.

Tecnicamente, o anime também é bem executado. A animação é boa e linear; dá uma caidinha nos episódios mais para o final, mas só para deixar para fazer as coisas bem-feitas no último episódio. A trilha sonora também é legal e combina muito com as cenas. Esse é outro ponto positivo da obra, pensando nela como série de anime.

    Num todo, Re: Zero foi um bom anime. Não tem o enredo mais impecável do mundo, mas tem coisas positivas o suficiente para fazer ganhar a atenção e agradar ao público. De zero a dez, Re: Zero mereceria, a meu ver, uma nota entre sete e oito, dependendo do que você vai presar mais na hora de dar o veredito. Se eu recomendaria Re: Zero para as pessoas? Com certeza, a história tem elementos para todos os gostos, o que torna possível que agrade uma grande quantidade de pessoas.

    Em suma, foi divertido acompanhar Re: Zero. O anime me surpreendeu bastante, eu não esperava nada mesmo, e foi uma boa experiência aguardar os episódios, curiosa. Afinal, Re: Zero é isso mesmo: uma salada de várias coisas; um genuíno anime capaz de unir todas, ou ao menos várias, tribos.