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Resenha: Chuunibyou Demo Koi ga Shitai!


    Chuunibyou. A síndrome da oitava série. Aquela época da vida em que os adolescentes resolvem ser diferentes de tudo e de todos, chegando até mesmo a fingirem que possuem poderes especiais. Esse é um dos elementos chaves que permeiam o enredo de Chuunibyou Demo Koi ga Shitai! Originalmente uma light novel escrita por Torako, com ilustrações de Nozomi Osaka, a obra ganhou uma adaptação para anime em outubro de 2012, um filme em 2013 e uma segunda temporada em janeiro de 2014. 

    A história gira em torno de Togashi Yuuta, um garoto que está para entrar no Ensino Médio. Entretanto, durante o Fundamental, Yuuta sofria do famoso chuunibyou. O garoto se autodenominava Dark Flame Master e acreditava ter poderes especiais. Agora, prestes a começar o Ensino Médio, Yuuta só quer deixar seu passado embaraçoso para trás e ter uma vida escolar diferente. Porém isso não será assim tão fácil graças à existência de Takanashi Rikka, sua vizinha e colega de classe, que ainda sofre de chuunibyou e conhece sua antiga identidade.

    Chuunibyou é um anime que eu queria assistir já faz um bom tempo, mas vivia enrolando, sempre encontrando uma desculpa diferente. Como são duas temporadas eu decidi fazer um post só para as duas de uma vez, então, sim, isso pode acabar se tornando um texto muito longo. Vou tentar dar o mínimo de spoiler possível, mas não posso garantir que vai ser cem por cento livre de spoilers, principalmente na parte da segunda temporada. Então, vamos lá.

Chuunibyou Demo Koi ga Shitai!



 Ah, a primeira temporada! Eu gosto muito dessa primeira temporada, eu gosto mesmo, mais do que da outra. Eu gosto porque apesar de Chuunibyou ser um slice of life, apesar de aparentemente ser só garotinhas fofas fazendo gracinha e o Yuuta respirando pesadamente pós alguma peripécia da Rikka, essa temporada aborda, sim, algo mais sério.

   A forma como o chuunibyou da Rikka, mas também o chunnibyou em si, é tratado é algo que fez com que eu gostasse ainda mais da história. Além dos personagens, além das piadas, além da animação de qualidade já esperada de um anime da Kyoto Animation. No momento em que eu percebi que havia, sim, uma perspectiva de abordagem do chuunibyou ali, no meio de tudo aquilo, eu gostei ainda mais de todo o conjunto da obra e do enredo.

    Como essa é a primeira temporada, é nela que são apresentados os personagens e todo o panorama da história. Acho os personagens de Chuunibyou todos muito carismáticos. Todos são fofos, engraçados e adoráveis à sua maneira. Todos. Tanto, que considero indispensável falar deles. 

    Começando por Togashi Yuuta, o protagonista mor, por assim dizer. O Yuuta, como a própria sinopse já mostra, sofria de chuunibyou durante seu Ensino Fundamental. O garoto se autodeclarava Dark Flame Master e acreditava ter poderes especiais. Acontece que o tempo passa, o Yuuta amadurece, e deixa de lado a síndrome da oitava série. Então, ele começa a se sentir envergonhado dos seus tempos de Dark Flame Master e quer deixar tudo aquilo para trás. Yuuta busca uma nova vida escolar, um recomeço, por isso ele vai para uma escola onde ninguém o conhece. Ele não quer ser apontado por ninguém como "o garoto que dizia ter poderes e estava sempre sozinho agindo como se desprezasse todo mundo". Entretanto, para além de um ex-chuunibyou, o Yuuta tem algo mais. Acho que ele tem, talvez, uma gentileza enraizada nele. Isso sem contar que ainda não abandonou completamente seu lado chuuni, se é que isso é possível, e a maneira como ele se relaciona com a Rikka é também muito interessante. Acho que talvez a palavra compreensivo exemplifique um pouco. Ele compreende a Rikka, isso é legal. 


    E falando em Takanashi Rikka, o que podemos dizer da garota que estraga todos os planos do Yuuta? Rikka e seu tapa-olho utilizado para selar seu poder. Rikka, a Wicked Eye. Rikka e suas frases que ninguém entende. Rikka que parece que nunca fala nada com nada. Rikka sempre tão fofinha... Acho a Rikka fantástica, mesmo. Ela é fofa, é engraçada, tem um bom desenvolvimento, principalmente nessa primeira temporada, tem um passado e usa um tapa-olho! Eu disse que gosto da relação que o Yuuta tem com a Rikka e isso, obviamente, se estende para a relação que a Rikka tem com o Yuuta. Ela não desiste, trata o Yuuta como Dark Flame Master mesmo que ele não queira mais ouvir esse nome; a Rikka enxerga a última pontinha de chuunibyou presente no Yuuta e esse é o começo de uma relação muito legal, mesmo.



Tratando-se de Rikka, não é possível deixar de lado sua serva, Sanae Dekomori. Se autodenominando Mjolnir Hammer, Dekomori conheceu Rikka pela internet e, desde então, se tornou sua serva. Ela é, simplesmente, a mais fofa. Não tem pra ninguém, não adianta. Aquelas marias-chiquinhas loiras, os pesos nas pontas, aquela voz fantástica... A Dekomori é uma peste! E isso é maravilhoso! Demorei um bom tempo pra decidir se tinha com ela uma relação de puro amor ou se eu queria esganá-la. A primeira opção ganhou. Dekomori é engraçada, uma serva dedicada e responsável por grande parte dos escapes cômicos ao longo do anime. Como? Atormentando a pobre Nibutani.

    E quem é Shinka Nibutani? Bom, no começo ela é apenas uma bela garota da turma do Yuuta. Os cabelos longos e brilhantes, a mais bonita da turma, as maiores notas... Nibutani é a estudante perfeita. Mas não, não é bem assim. A garota tem um passado: por mais incrível que pareça, ela também já sofreu de chuunibyou. Sua identidade era Mori Summer, uma maga de mais de cem anos. O objetivo dela é o mesmo de Yuuta, deixar todo esse negócio de chuunibyou para trás e recomeçar. Entretanto, com a presença de Rikka e, consequentemente, de Dekomori, uma grande devota de Mori Summer, não é nada fácil. Assim como Yuuta, Nibutani morre de vergonha do seu passado, ela chega a rolar, literalmente, no chão de vergonha. Também possuí um lado muito agressivo e um grande desejo de aceitação, mas é uma pessoa bem prestativa e uma amiga dedicada.


    Pode não parecer, mas no meio de todos esses chuunibyou e ex-chuunibyou existem pessoas normais. Ou quase normais, afinal, não sei se normal é uma palavra muito boa para descrever Kumin Tsuyuri. A garota é um ano mais velha que os demais personagens, sendo, portanto, a veterana, vulgo senpai. A Kumin só dorme. Ela praticamente dorme o anime todo; tem uma voz super calma e sonolenta, e é muito fofa. Toda essa fofura e gentileza consegue conquistar o coração de um de seus kouhai, Makoto Isshiki. E não, ela não tem chuunibyou. 

    Acho que quando o assunto é o Makoto, normal também não descreve muito bem. Apesar de não possuir a síndrome da oitava série Makoto é muito engraçado. Na verdade, ele é muito idiota. E também tem um pouco daquele estereótipo de garoto que vai para o ensino médio e quer "fazer sucesso com as mulheres", por assim dizer. Makoto é o primeiro amigo que o Yuuta faz na escola.

Além dos personagens adolescentes, considero importante a presença de Takanashi Touka. Ela é uma cozinheira profissional e não tem um bom relacionamento com a irmã, Rikka. A Touka também soa muito séria e agressiva, mas esse jeitão dela a torna engraçada em muitos momentos. E no fim das contas ela só quer ajudar a Rikka sair dessa de chuunibyou e mais algumas outras coisas que tem de assistir o anime para descobrir.

    Ainda falando de irmãos, vou citar Kuzuha e Yumeha, as irmãs mais novas do Yuuta. A Kuzuha tem um ar muito responsável e, de fato, ela é mesmo bem responsável. Já a Yumeha é muito novinha e só é fofa mesmo; porém protagoniza umas cenas super engraçadas.

    Somando enredo, personagens, trilha sonora, animação e todas as coisas de sempre, a primeira temporada de Chuunibyou é mesmo algo incrível. Tem humor, tem "romance", tem coisas fofas e tem, sim, uma parte mais séria. Anteriormente, eu falei sobre a forma que o chuunibyou é abordado na trama e esse acho que é o grande diferencial para mim. É o toque à mais que me fez apreciar verdadeiramente essa temporada e entrar super animada e com o pé direito na próxima.

Chuunibyou Demo Koi ga Shitai! Ren

  
     A segunda temporada não é, a meu ver, tão boa quanto a primeira. Não que seja ruim, isso não, a primeira só me agradou um pouco mais. Nessa nova temporada houve um desenvolvimento maior das relações entre os personagens. Uma vez que se teve a resolução do conflito existente na primeira temporada, a segunda acabou sendo um pouco mais leve. O foco é um desenvolvimento interpessoal num sentido mais romântico, como sempre muito bonitinho e engraçado pra caramba.

    Uma série de fatores levam Yuuta e Rikka a morarem juntos. Uma coabitação secreta que poderia dar em muita coisa caso a Rikka não sofresse de chuunibyou. Em contrapartida, uma antiga amiga de Yuuta aparece: Shichimiya Satone. A garota andava com Yuuta nos tempos do Fundamental, sua identidade chuuni é Sophia Ring SP Saturn VII e, sim, ela ainda sofre de chuunibyou.



A Satone é a grande nova personagem da trama, ela aparece para meio que dar uma desestabilizada nas coisas. Eu digo meio porque não acontece, exatamente, uma grande mudança nem nada. A voz dela é um pouco irritante, mas ela é muito animada, meio hiperativa e bem engraçada.

    Confesso que quando a Satone apareceu pensei que o anime poderia acarretar uma grande ship war, afinal, nessa segunda temporada a Rikka e o Yuuta têm um contrato de namorados; mas não senti muito essa vibe emanando. Eu diria, inclusive, que a presença da Satone ajudou muito em algumas coisas. Essa temporada tem uma carga de desenvolvimento de relações, isso vale tanto para o relacionamento do Yuuta e da Rikka, quanto para o da Dekomori e da Nibutani. Inclusive, a Nibutani se desenvolve muito nessa temporada.

    Essa segunda temporada foi muito amorzinho, muito amorzinho mesmo. Ela tem um foco um pouco maior no romance, então rolam muitas cenas bonitinhas e engraçadas, já que metade do elenco sofre ou já sofreu de chuunibyou. Entretanto, mesmo nos relacionamentos não românticos acontecem muitos escapes cômicos também. É uma temporada muito engraçada. Talvez o grande contraste seja este. A segunda temporada é mais leve, é mais amorzinho e risos mesmo. Mas, ainda assim, foi bem legal de assistir. 

     Além da Satone não há nenhuma outra grande interferência. A turma continua toda a mesma: Yuuta, Rikka, Nibutani, Dekomori, Kumin e Makoto. Talvez o que tenha aumentado são as cenas de briga entre a Dekomori e a Nibutani, que me causaram altas gargalhadas. Eu amo a interação delas, parecem cão e gato, é muito legal.

     Portanto, o saldo final da segunda temporada também é positivo. Mesmo eu não sentindo aquele "foco mais sério" por trás, foi muito bonitinha e engraçada. São doze episódios muito bem feitos que vale sim passar suas horas assistindo.

Conclusão


    Num geral, somando as duas temporadas com tudo o que foi apresentado nelas, Chuunibyou tem um saldo muito positivo. É um anime com uma história bonitinha e interessante, que têm um bom desenvolvimento e uma boa execução tanto em relação ao enredo, quanto em relação às coisas mais técnicas. Me diverti bastante assistindo Chuunibyou; eu ri, eu chorei (muito, no final da primeira temporada), tive overdose de fofura... Em suma, foi uma experiência super válida e, no final de tudo, ainda ficou aquele gostinho de "quero mais".  



"De fato, nós carregamos o chuunibyou durante toda a nossa vida."
   





                                                  

Resenha: Mahou Shoujo Madoka Magica


"Você pode fazer um contrato comigo e se tornar uma Mahou Shoujo!"

   Não é de hoje que se ouve falar de Madoka, a mahou shoujo, a deusa, a carta trunfo da New Pop... Existem piadas e comentários sobre Madoka espalhados por todos os lados da internet. Quem ouviu falar sobre e ainda não conhecia já deve ter procurado e se visto diante duma linda garotinha moe de cabelos rosa. Entretanto, eu ousaria dizer que Madoka é mais do que isso. 

   Mahou Shoujo Madoka Magica é um anime do ano de 2011 que, aparentemente, não tem nada de especial. O título já denuncia: mais um anime de mahou shoujo, ou é isso que deveria ser. A história gira em torno Madoka, uma estudante comum que vive uma vida comum até se encontrar com uma criatura misteriosa chamada Kyubey que lhe a faz uma proposta: ela deveria fazer um contrato com ele e se tornar uma mahou shoujo. Entretanto, apesar de parecer simples, ser uma mahou shoujo é uma tarefa muito mais árdua do que se tem ideia.

Eu vejo Madoka como um claro exemplo de desconstrução. A história desconstrói o que se espera do gênero mahou shoujo. A primeira coisa que me chamou atenção é justamente a expressão, o nome do gênero, ali, bem no título "mahou shoujo". Já assisti outros animes desse tipo, mas o nome do gênero não havia aparecido, até então, desta forma. Madoka, escancara, logo de início o tema da série e isso é algo interessante de se deparar. Outra coisa que eu gosto é como tudo em Madoka gira em torno, num plano mais superficial, do mahou shoujo. O foco não é um grande vilão que elas precisam derrotar, não é algum reino perdido, não é um bruxo misterioso, não é nada disso; o que importa é o mahou shoujo. Por que se tornar uma mahou shoujo? Por que uma mahou shoujo luta? Qual o sentido de ser uma mahou shoujo? Afinal, o que é ser uma mahou shoujo? O que é, exatamente, a existência de uma mahou shoujo?

    Madoka gira e se desenvolve em torno dessas questões e desse universo. Porém, não é só isso. O anime é diferente do que se espera das histórias comuns de garotas mágicas. Claro que as personagens são fofas, claro que elas lutam com graciosidade, claro que tem situações moe, entretanto, em oposição à tudo isso há uma grande carga sombria. Madoka tem uma carga de mistério e também uma carga sentimental muito grande, e a carga sentimental de Madoka é dolorosa. Dor é o que não falta em Madoka.

    O anime tem apenas doze episódios, mas acredito que ele se realize muito bem dentro desse espaço. Você tem uma proposta apresentada, você tem muitas voltas e você têm, em suma, personagens bem interessantes sendo expostos aos seus olhos. E esses personagens são importantes para a toda essa ideia de desconstrução do gênero, mistérios a serem descobertos e tudo o mais que envolve o anime.

   A primeira mahou shoujo com quem Madoka se depara, a primeira que ela vê atuando, é a Tomoe Mami. Ela é um ano mais velha que as demais personagens e aparenta ser absurdamente madura. A Mami tem uma presença considerável e é muito gentil. A garota acaba se tornando a mentora de Madoka e Sayaka após salvá-las do labirinto de uma bruxa. A Mami é, de uma certa forma, o ponto de partida para que o expectador comece a perceber que Madoka não é um anime comum de garotas mágicas, a postura de Mami enquanto mahou shoujo já começa a dar sinais disso. 


    Miki Sayaka é uma amiga de Madoka. Quando as duas salvam Kyubey ela também recebe o convite para se tornar uma mahou shoujo. Vejo um pouco a Sayaka como "a enfurecida". Ela não é a mais enfurecida, talvez, mas ela tem uma fúria muito grande dentro dela e isso vai além do pavio curto que ela já demonstra ter. A Sayaka é engraçada, é divertida e eu ousaria dizer que a vida de mahou shoujo a quebra. Toda essa responsabilidade, tudo o que isso traz, tudo o que isso é de verdade leva Sayaka a situações e atitudes nada saudáveis. Ela sente raiva, muita raiva.

   Sakura Kyoko é uma mahou shoujo que aparece na cidade para reclamar território. Inicialmente ela soa egoísta e arrogante, mas tem muito mais por trás dela. Kyoko come pra caramba e tem uma interessante relação de antagonismo com a Sayaka. Apesar do ar todo empertigado a mahou shoujo tem muito mais a oferecer.

   Akemi Homura é, aos meus olhos, uma das melhores personagens, de longe. Não digo isso só porque ela é minha favorita ou só porque ela é muito importante para a maneira como os fatos acontecem e sua conclusão, mas sim porque ela é uma personagem que tem coisas a oferecer. A Homura tem meio que "cara de nada". Ela soa fria, calculista, misteriosa e sempre sabe de tudo. Ela faz o que precisa ser feito não importa quais sejam as consequências, não importa o que aconteça. Homura tem um objetivo, uma missão e sabe o que quer. É por isso que ela luta e ela faz de tudo para alcançar esse objetivo. A Homura torceria um universo todo para chegar até onde ela quer e fazer o final que deseja.

  

Então, temos Kaname Madoka, aquela que dá nome ao anime, aquela por quem tudo acontece, aquela ao redor do que tudo gira. A Madoka é minha segunda favorita, na verdade ela e a Homura são meus grandes amores nesse anime, e ela é tão linda. Ela é fofa, gentil, delicada, altruísta, pensa nos outros e sobre as coisas. Eu gosto da Madoka. Nem sempre eu gosto das protagonistas de mahou shoujo, mas da Madoka eu gosto. Tudo é construído de uma forma que não consigo não gostar dela. Ela é importante e não é chata. Talvez não pareça, mas a Madoka é uma garota e tanto.

    Preciso, ainda, falar do Kyubey. Ah, não se deixem enganar por essa aparência fofinha. Esses olhos vermelhos, foquem nesses olhos vermelhos e lembrem-se que as aparências enganam, e muito. O Kyubey é bem misterioso, em alguns momentos você não sabe muito bem o que, afinal, ele planeja. Ele não é mau, segundo seus próprios valores e objetivos, mas segundo os valores humanos ele é mau. O tempo todo você sente que tem algo por trás dele, o tempo todo você sente que ele não está se mostrando como é de verdade. Kyubey é um enigma que vai se desvendando aos poucos, mas desde o início percebe-se que, nem de longe, é o que parece ser.

    Juntando todos os elementos de Madoka, posso dizer que gostei bastante do anime. Eu gostei das músicas, do clima, do enredo. O final é satisfatório, compreensível, tem um pouco aquela sensação de "tem de ser assim". Ao longo do desenrolar da história também é possível notar algumas cenas com menções ao sagrado e ao santo. Não digo isso num sentido cristão, embora, algumas coisas sejam possíveis de se relacionar; mas, desde o início, em determinados momentos eu senti um pouco que podia haver essa ou aquela ligação com algo divino. Eu digo isso porque, no final, é algo muito escancarado e aparente, talvez pareça um pouco surpreendente (não o final em si, mas a clara relação com o divino), porém desde o início já se tem uma leve preparação para isso.


   Além do anime, Madoka tem três filmes e adaptação para mangá. Os primeiros dois filmes são um resumão do anime, já o terceiro é uma espécie de continuação, uma coisa a mais. Confesso que gosto mais da maneira que o anime termina do que o terceiro filme. Não que o filme seja ruim, não. É legal, é bom, é emocionante e eu chorei duas vezes mais com ele do que com o anime. Eu desidratei com o filme, porém, em alguma coisa ele me incomoda. Talvez eu ainda esteja digerindo, acho que deve ser isso. Quanto ao mangá existem várias adaptações, dentre elas: uma que adapta diretamente o anime para mangá, tem três volumes e o mesmo nome do anime; Puella Magi Kazumi Magica: The Innocente Malice e ainda, Puella Magi Oriko Magica. Nos dois últimos mangás o enredo não tem a ver, diretamente, com o enredo do anime. 

    Assistir Madoka foi uma experiência e tanto para mim. Eu entendi porque tanta gente gosta do que parece ser apenas mais um mahou shoujo, eu vi uma desconstrução de todo um gênero e fui completamente envolvida pela história. Quem gosta de mahou shoujo deveria assistir Madoka, mas quem não gosta deveria MESMO assistir, verdadeiramente tem um conceito bacana, me agradou bastante. À primeira vista pode parecer apenas mais um anime de garotinhas mágicas se transformando, pulando e agindo de forma fofa, mas não é nada disso e a mágica de Madoka Magica é, exatamente, esta!

"Não se esqueça. Sempre, em algum lugar, alguém está lutando por você. Enquanto se lembrar dela, você não estará sozinho."


    

Resenha: O Gigante Enterrado


   Vez por outra nos deparamos com um livro que, logo no primeiro olhar, nos enche de curiosidade; esse é o caso de O Gigante Enterrado. Seja pela capa que é fantasticamente linda, capaz de captar vários dos seus sentidos, seja pelo inusitado fato de ser uma literatura britânica escrita por um japonês. 

   De autoria de Kazuo Ishiguru, O Gigante Enterrado se passa numa terra marcada por guerras recentes e sob uma névoa do esquecimento. A história se inicia com um casal de idosos que resolve visitar o filho que há muito não viam, porém, sua jornada acaba se tornando mais longa e cheia de desvios do que eles esperavam. O livro transita entre a fantasia e o lirismo e trata com muita delicadeza de temas como o amor, a guerra e a memória.

   Devo dizer, logo de início, que o livro tem um clima tolkiano muito grande. Durante a leitura, muitas vezes eu me sentia imersa num universo semelhante ao de O Senhor dos Anéis e não estou dizendo isso pela temática do livro. Tem alguma coisa no estilo do Ishiguro que me lembra o estilo do Tolkien em A Sociedade do Anel; ironicamente, o Pullman da trilogia Fronteiras do Universo, me remete ao mesmo sentimento em determinados momentos. É como um peso leve, um avanço lento, é acolhedor. Eu gosto.

    O Gigante Enterrado foi uma descoberta interessante. Quando li o título não imaginei que a história seria contada da maneira que é contada, ou seguiria os rumos que seguiu. Foi uma surpresa satisfatória. O narrador começa o livro se dirigindo ao leitor e, apesar de muita gente reclamar disso, esse é um dos recursos literários que mais me agradam. Eu gosto que falem comigo; dá a impressão de que aquela história, aqueles acontecimentos, são verídicos. Como no livro tudo se passa num período anterior à formação da Inglaterra como Inglaterra propriamente dita, tudo casa muito bem.


   Durante o desenrolar da história, são inseridos outros personagens na trama além do nosso já conhecido casal do primeiro capítulo. Permeando o livro todo, ou boa parte do livro, temos dois cavaleiros e um menino. Têm-se também muitos aldeões e viajantes, mas eles estão apenas de passagem. Enfim, um desses cavaleiros é um cavaleiro arturiano o que faz com que o próprio Artur seja citado na história. O que acontece, então, é uma narrativa onde se reverbera os tempos do Rei Artur! Eles discorrem, questionam e conversam sobre a Bretanha antes, durante e depois do rei capaz de unir as duas cruzes. Como tenho um pequeno tombo por histórias arturianas essas partes da história me agradaram bastante.

    Por ser um livro que trata de uma viagem, uma jornada, literalmente, houve momentos em que o ritmo ficou um pouquinho enfadonho. Mas o final compensa bastante. Conforme todas as peças vão se encaixando, a narrativa se mostra mais e mais interessante. As cenas de batalha são rápidas, mas acredito que o foco da história é muito mais todo o plano de fundo às batalhas do que as lutas em si. A narrativa trabalha com o amor e a memória, e eles são chave muito importante para se compreender tudo o que acontece.

    O final me deu aquele sentimento de dualidade. Foi bom porque foi bonito, lindo, poético. Mas foi ruim porque eu não queria que tivesse acabado daquela forma. Quando eu fui percebendo que ia mesmo terminar daquele jeito foi dando um desespero..., Mas, como já disse, foi um desfecho bem bonito. Uma outra coisa interessante é que, pensando agora, o jeito como tudo se inicia e depois como tudo termina, dá a impressão de que a narrativa toda não passou de apenas um pedaço da história de algo muito maior. Talvez daquela terra, talvez da Bretanha toda, talvez do próprio mundo.


    Num geral, foi uma experiência agradável. Teve fantasia, dragões, ogros, cavaleiros, viagens e batalhas. Teve poesia, flashback e conversas memoráveis. Teve reflexões e momentos de tirar o fôlego e apertar o coração. E você passa o livro todo tentando entender porque a história se chama O Gigante Enterrado. E, na hora que você descobre, do jeito que você descobre, é tão simples que chega a ser cômico. Para quem gosta de livros com esse clima fantástico antigo é uma boa pedida. O Gigante Enterrado é uma história fantástica e linda que, ao fim de tudo, deixa aquele gostinho de "quero mais".