Depois de muito tempo, enfim, eu vou resenhar um livro!!!! Tô muito
feliz por isso, tava me sentindo péssima por não estar lendo muito ultimamente,
nem parecia eu mesma, cruzes. Pra completar a festa, o livro de hoje é
especial. Eu me lembro de quando ele ainda tava pra ser lançado, porque eu
fazia parte do mesmo grupo de fãs de Potter que a autora, então, ela ia sempre
falar sobre como andavam as coisas e tudo o mais. Ela contava toda contente,
coisa linda de se ver! Então, eu sempre quis ler esse livro. Enfim, depois de
um certo (bastante tempo, diga-se de passagem), eu consegui ler. Em dois dias.
552 páginas em dois dias. Virei uma madrugada lendo, recomendo a todos essa
experiência. Okay, chega de enrolação, vamos ao que interessa.
A Arma Escarlate é um livro da autoria de Renata Ventura, uma
brasileira, e conta a história de uma escola de magia e bruxaria no Brasil. O
protagonista é Hugo, um carioca residente da favela Santa Marta, filho de mãe
solteira, todo desconfiado e esquentadinho, que acaba se descobrindo bruxo. Aos
treze anos de idade Hugo recebe uma carta sendo convidado a estudar numa escola
de magia. A história se desenvolve em dois locais diferentes: na Korkovado, a
escola de magia, e no morro Dona Marta. O livro é, verdadeiramente, o Harry
Potter de Dona Marta.
Foi a primeira vez que eu li um livro de fantasia, propriamente dito,
escrito por um brasileiro; então, só por isso ele já é legal. Entretanto, o que
mais me chamou a atenção foram as referências à Potter contidas no livro. São
várias, dezenas, desde as mais óbvias até as mais sutis. Existem passagens que,
pra você entender que aquilo é uma referência a Harry Potter, é preciso que
você tenha lido a saga, se não você nem percebe. A maneira como a Renata usa as
referências, inserindo uma coisa aqui, outra ali, é fantástica. O livro é
lindo. Meus olhos encheram de lágrimas nos três primeiros capítulos, não por
conta de alguma passagem muito triste, mas porque eu não podia acreditar que
tinha uma coisa tão linda diante dos meus olhos. Façanha de A Arma Escarlate:
me fazer ler um livro em pdf em dois dias, coisa inédita, crédito merecido.
A escola retratada é muito legal. É um colégio bem brazuca mesmo. Cheio
de confusões, um povo meio maluco, uns acontecimentos divertidos, é semelhante
a um colégio comum no Brasil. Eu vejo uma crítica social por trás de A Arma
Escarlate. Os problemas encontrados na Korkovado, são problemas encontrados em
colégios reais, colégios normais, no meu antigo colégio. E a parte que retrata
a favela, então... Fantasia misturada com grandes doses de realidade. Realidade
brasileira e que não acontece só no Rio de Janeiro não, acontece no país todo.
Vou dar spoiler: logo no começo do livro, o Hugo reclama de estar sem
professores no colégio dele, o colégio não-bruxo; uma coisa que, tristemente, é
super comum em escolas públicas e que já aconteceu comigo. Hugo, eu entendo
perfeitamente sua revolta.
E por falar em Hugo, gostaria de deixar claro que nosso protagonista não
é um herói. Ele é um anti-herói, talvez, o maior protagonista anti-herói que os
livros de fantasia já viram. Eu tenho uma grande relação de amor e ódio com o
Hugo. Eu entendo ele, entendo os motivos dele, mas ao mesmo tempo que fico com
muita raiva. Se meus protagonistas preferidos têm o dom de se meterem em
confusões, saibam que Hugo tem esse dom multiplicado, e mais, muitas vezes ele
merece as rasteiras que leva. O Escarlate não confia em ninguém, já levou tanta
rasteira da vida que acha que todo mundo vai decepcionar dele e tem alguns
leves, ou nem tão leves assim, desvios de caráter. Mas tudo bem, Hugo, eu te
entendo, a vida não é fácil pra ninguém e pra você, amigo, ela foi bem dura.
Não que você seja o único né? Tem muita gente em situação igual ou pior, mas
digamos que suas atitudes são compreensíveis. Pelo menos algumas delas.
Em A Arma Escarlate não existe Beco Diagonal, mas existe sub-SAARA que
dá um show de apresentação. Sabe quando você lê pela primeira vez sobre o Beco?
Aí você fica tipo: Meu Deus, por que eu não moro em Londres pra tentar ir nesse
lugar? Então, a sensação é a mesma quando você lê sobre o sub-SAARA. Na
verdade, de todos os livros que eu li, o único que me deu uma sensação
semelhante à leitura de Potter, foi A Arma Escarlate. Uma coisa e tanto,
afinal, sou muito chata com relação à classificação de minhas sensações. A
Korkovado, obviamente, não é um castelo, mas ela tem seu brilho também. E os
feitiços... Cara, quem vai pensar em fazer feitiços em bantu, iorubá e tupi?
Genial! Jogada de mestre, sério. Créditos pela criatividade, pela inovação e
pela lembrança das influências que essas línguas têm no português e na cultura
brasileira. Ah, mais um ponto pelo aproveitamento das lendas brasileiras e das
crenças indígenas e africanas. Brasil é essa coisa bonita mesmo, de misturar
índio, negro e português e junto com eles vêm as crenças e os costumes,
formando essa grande confusão de cores, credos e culturas que é o nosso país.
Bem mágico.
Os personagens são demais. Teve gente que eu amei, teve gente que eu
odiei, teve gente que me fez lembrar de personagem de Harry Potter e teve gente
que não tinha nenhum pé na obra de Jo. Na Korkovado não tem quadribol, mas tem
um jogo maneiro no qual o Brasil e a Argentina são grandes rivais. Brasileiros,
sempre fadados e se desentender com os Hermanos por conta de esportes! Não tem
Marotos, mas tem Pixies e Anjos, e só esses dois grupos são capazes de causar
tanta confusão quanto as quatro casas de Hogwarts juntas.
E por falar em Hogwarts, essa escola serviu de uns escapes cômicos tão
bons. Porque não basta ter elementos da obra de Rowling e Tolkien, não, tem de
fazer umas relações intertextuais incríveis e deixar tudo mundo: Tu tá falando
do que eu penso que tu ta falando?" Olha, acho que ela tava falando do que
eu achava que ela tava falando. Por que não pintar de rosa a parede da
Korkovado pra comemorar o lançamento de um livro escrito por uma bruxa falando
sobre o mundo bruxo? "Pobre menino, já é famoso no nosso mundo, agora os
azêmolas vão querer autógrafo dele também..." Sábias palavras.
Em A Arma Escarlate tudo é muito bonito, é muito bem feito. Tem umas
cenas bem mágicas, outras super tensas e, minhas favoritas, umas cenas muito
engraçadas. Eu me apeguei muito à três personagens. A Gislene, que é tipo uma
Hermione só que menos sabe-tudo; o Viny, que é paulistas (me senti
representada) e é super engraçado (faz um sucesso e tanto com as mulheres
também, mas abafa); e o Capí, que é um amor de pessoa. O Capí é tipo o irmão
mais velho que todo mundo pediu a Merlim, a Deus, a Odin... Ele é muito legal e
é super sábio, calmo e tudo o mais.
Os professores da Korkovado são uma peça à parte; alguns são mais
caricatos, outros nem tanto, mas eu gostaria de ter aula com pelo menos três
deles. A diretora do colégio, dona Zoroastra, é a coisa mais linda e formosa
que o mundo da magia já viu. Ela é tipo a Maria I de Portugal... Acho que deu
pra entender, né?
Resumindo tudo, eu tô cheia de feels por esse livro. Ele é lindo, é bem
escrito, é leve, engraçado e sério, tudo ao mesmo tempo. Eu não sei se gosto
mais do livro pela história, pela autora ser uma fofa ou pela autora ser fã de
Potter. Tô simplesmente apaixonada e espero a continuação. Tô roendo as unhas
de ansiedade, preciso do segundo livro e preciso agora. Recomendo muito, muito
mesmo. É uma coisa muito única ao meu ver. Um livro de fantasia que mistura
magia e a realidade brasileira é uma coisa incrível. A gente lê tanta série
americana, por que não ler uma série brasileira? Por que não ler um livro cuja
crítica social você compreende com perfeição? Afinal, você vê aquilo todos os
dias na rua. Na minha rua, na sua rua, na sua escola, na sua casa... Pra quem
gosta de fantasia é uma experiência e tanto. Então, leiam A Arma Escarlate, se
apaixonem e vamos todos para a escola do Korkovado. Afinal, já que Hogwarts não
me enviou a minha carta, vou tentar uma mais perto; Rio de Janeiro é pertinho
da minha casa, só oito horas de viagem... Okay, agora é sério. Eu queria poder
falar muito mais coisa, mas se eu ficar falando vou dar spoiler e não vou
terminar essa resenha nunca! Portanto, é isso. Ah, mais uma coisa: O livro é mesmo bom e quer saber? A Korkovado
não é a Hogwarts brasileira não. A Korkovado é a Korkovado, afinal, toda escola
de magia é única!
Adorei esta resenha, perfeita, sem palavras...
ResponderExcluirObrigada, é bondade da sua parte, haha.
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