Após se formar na faculdade, um cara de vinte e cinco anos aluga um
apartamento no centro de Porto Alegre e passa todos os dias olhando o movimento
pela janela, bebendo cerveja e caminhando pelas ruas da cidade. Até que
aparecem em sua vida uma modelo chamada Marcela e um cão. A partir daí o
protagonista se vê num impasse, se questionando sobre qual o melhor modo de
viver: persistir num quotidiano de privações, mas sem riscos emocionais, ou se
deixar levar pelas possibilidades dos afetos.
Esse é o enredo de Até O Dia Em Que O Cão Morreu, livro do brasileiro
Daniel Galera. Apesar de aparentemente a história ser monótona, a narrativa
abrange questões bem legais. O livro tem um ar um pouco deprimente, ou melhor,
melancólico, mas essa é, justamente, uma das coisas mais interessantes da obra.
O protagonista é formado em Letras, então, eu meio que me conectei com
ele logo de cara. Digamos que eu o compreendi.... Digamos que bateu aquele
desespero de se formar e acabar se vendo na mesma situação que o protagonista.
Porém, após o momento "Ó, meu Deus, poderia ser eu", consegui curtir
bastante o livro.
Pensando nos livros brasileiros atuais que eu andei lendo, esse tem uma
temática um pouco diferente, e eu gostei bastante. Gostei desse negócio do autor
ter um livro com uma proposta questionadora. Entretanto, o que o narrador
questiona não é, exatamente, a sociedade e coisas assim; é mais uma coisa
existencialista. São as próprias relações humanas, o modo de vida das pessoas,
não só no coletivo, mas de maneira individual. Fazia tempo que eu não lia um
livro assim, que não fosse canônico, a ideia me fisgou.
Me agradou o modo como foram desenvolvidas as relações dele com Marcela
e com o cão. Também gostei de como foram desenvolvidas as relações de Marcela
com seu trabalho e as coisas que a rodeiam. A Marcela, na verdade, foi um
personagem que me intrigou bastante. Compreendê-la era uma tarefa interessante,
eu gostei de tentar entendê-la. Acho que me conectei muito mais facilmente com
o protagonista do que com Marcela, talvez porque eu a visse pelos olhos dele.
Enfim, foi uma experiência e tanto ler o livro.
Até O Dia Em Que O Cão Morreu tem aquele climinha melancólico... Aquela
coisa meio "dia-de-chuva, paz, pensamentos, um livro, um café e Marcelo
Camelo tocando ao fundo", ou foi isso que me remeteu logo de início. Me
fez pensar sobre algumas questões. Me fez pensar nessas questões não só através
do viés dos personagens, pensando na vida e construção deles, mas também
olhando um pouco mais para mim mesma. Posso dizer que considerei a experiência
um tanto enriquecedora. E o final do livro é um pouco surpreendente. E nos
deixa cheios de expectativas!
A história de Galera não é um livro feliz. Ele é melancólico,
questionador, às vezes triste, às vezes com um tom cansado, às vezes com um ar
desacreditado. Entretanto, ainda assim, existem passagens engraçadas. Não é um
humor leve e alto astral, é um humor dentro da própria melancolia... E o
desfecho poderia ser caracterizado por um quase montanha-russa de sensações, ou
talvez, por uma mudança brusca de clima e sentimentos. É um livro para o qual
vale dar uma chance, embora, obviamente, o título já seja um spoiler. Para quem
gosta de cinema e adaptações literárias, existe um filme sobre o livro chamado
Cão Sem Dono.
Até O Dia Em Que O Cão Morreu é uma daquelas histórias que, apesar de
inicialmente, parecer só uma grande carga de melancolia, consegue se desdobrar
em algo maior. É uma história que soa como um pedacinho da vida. Uma história
que merece ser ouvida!
Nenhum comentário:
Postar um comentário