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Resenha: O Apanhador no Campo de Centeio



"[...] fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto - quer dizer, ninguém grande - a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer."

     O livro da vez é O Apanhador no Campo de Centeio. De autoria do americano J.D.Salinger, o livro conta um fim de semana na vida de Holden Caulfield. O garoto tem 16 anos e é membro de uma família abastada de Nova Iorque; após ser reprovado em três das quatro matérias que cursava em seu colégio interno, Holden é expulso da escola. Então, ele decide retornar mais cedo para Nova Iorque; entretanto, resolve adiar o confronto com a família e começa a "zanzar" pela cidade. Durante seu preambulo pela cidade Holden reflete sua vida, sua visão de mundo e seu futuro. Antes de enfrentar os pais o garoto procura um professor, uma antiga namorada e sua irmãzinha enquanto tenta explicar e entender a confusão que se passa em sua cabeça. 

    Apesar de ser um livro inicialmente dedicado ao público adulto, O Apanhador no Campo de Centeio se tornou muito popular dentre os jovens e adolescentes. O protagonista anti-herói, Holden, se tornou símbolo da rebelião adolescente por tratar de temas tipicamente adolescentes como angústia, alienação, linguagem e rebelião.

    Eu poderia dizer que, num todo, o livro é "uma brisa do rato", mas acho que a expressão não se adequaria à temática do livro. Quando eu terminei O Apanhador no Campo de Centeio, eu fiquei com aquela sensação de que a minha vida não fazia mais sentido. Devo ter ficado uns três dias pensando no livro, na verdade, ainda existem muitas coisas que eu estou absorvendo. O livro te suga bastante, eu diria.
   
A coisa mais interessante, do livro todo, é o Holden. O garoto é, assim, insano. No começo, quando você vê ele chamando todo mundo de "falsos" e "mascarados" (em inglês a palavra que ele utiliza é "phony") é até engraçado. Têm-se aquela impressão de: poxa, que cara chato, ninguém é bom para ele! É bem aquela coisa de adolescente rebelde sem causa, sabe? Chega a ser engraçado, a revolta dele é quase cômica. Ele está com raiva o tempo todo, brigando o tempo todo.... É um pouco assustador, mas, inicialmente, é só uma coisa de um adolescente. Entretanto, conforme a narrativa vai se desenrolando, isso começa a se tornar preocupante. Holden sente tanta raiva, todo tempo... E ele não tem nenhum objetivo. Ele não gosta de nada, nada está bom, ele não se esforça para nada, ele não quer nada.... De um pouco assustador, se torna muito assustador. Então, se torna desesperante.

   Chega um momento do livro que você não sabe mais se o que está sendo narrado aconteceu mesmo ou é delírio do Holden. A narrativa é em primeira pessoa, então, vemos tudo da perspectiva de Holden que, claramente, não está bem das ideias. Ele sofre. Sofre porque não entende um monte de coisas, porque tem medo de um monte de coisas e porque não entende ele mesmo. O Holden meio que teme crescer. Ele teme o amadurecimento e todas as responsabilidades que isso implica. Simplificando, "ele tem medo de crescer", mas não é algo assim tão simples. 

   Outra coisa que eu gostei foi a linguagem do livro. Ela é bem direta, é jovem e leve. É simples, sem muita coisa rebuscada. Entretanto, o livro é antigo então o palavreado jovem do livro nem sempre é o palavreado jovem de agora. Na tradução que eu li são recorrentes expressões como "fora de brincadeira", "eu me esbaldo", "eu me acabo"... E a palavra "pequena" para designar as garotas foi o ponto alto das gírias presentes no livro. Mesmo assim, não é como se você não fosse capaz de entender o livro. Mesmo essas expressões mais antigas são bem fáceis de entender pelo contexto e tudo o mais. Portanto, não tem desculpa de adolescente dizer "Ai, mas não vou ler O Apanhador porque não gosto de livro de linguagem antiga porque eu sinto que eu não entendo" porque você vai entender sim, colega. 

   Ainda voltado para a questão do público jovem e tudo o mais, um amigo meu que fez intercâmbio para os EUA disse que O Apanhador no Campo de Centeio é um dos poucos livros que os adolescentes leem para a escola e gostam.

   Resumindo tudo, o livro é muito bom. É fácil de ler, mas te faz pensar em muitas coisas. Mas não como certos livros onde você sente o autor se esforçando para fazer você pensar; a narrativa toda te leva a isso. A forma como ela é feita, a maneira que é conduzida, a linguagem, os fatos que ocorrem.... Tudo converge para um final que te deixa deitado na cama olhando para o teto e pensando... pensando muito.

   Para finalizar, basicamente, se você gostou de As Vantagens de Ser Invisível ou qualquer outro livro com adolescentes passando por problemas de aceitação, revolta ou coisa do gênero, leia O Apanhador no Campo de Centeio. É bom, é legal, é insano e por que não dizer? Filosófico!

"A gente nunca devia contar nada a ninguém. Mal acaba de contar, a gente começa a sentir saudade de todo mundo."


   

6 comentários:

  1. Curti a temática do livro e o modo como ele se apresenta também, vou adiciona-lo em minha lista junto com Extraordinário. E, como sempre, ótima resenha. Continue assim, abraços.

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    1. Eu tô morrendo de amores pelo Apanhador. Confesso que li K, O relato de uma busca, mas ainda estou in love é com O Apanhador mesmo kk. Obrigado pelo comentário <3

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  2. Meu Deus como vc e screve bem.... Já amo esse livro

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    1. Muito obrigada. Espero que você aprecie o livro, eu gostei bastante de ler O Apanhador.

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  3. Péssimo livro! Só a história de um garoto infantil,que não sabe o que quer dá vida,imaturo,reclamao e que se expressa super mal. A única coisa bonita é que ele ama as crianças.Mas durante todo o livro está cheio de burrinha.

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    1. Bom, O Apanhador é, por assim dizer, inegavelmente uma história bem "white people problem", mas isso não torna o livro, necessariamente, ruim. O Holden é imaturo, ele tem 16 anos. Ele não sabe o que quer da vida, mas ele tem 16 anos. Eu não sei o que você quer dizer com "ele se expressa super mal". Se for a elocução, novamente, ele fala como um garoto de 16 anos da época. Se for quanto as atitudes... Ele tem sérios problemas, ele claramente não tá bem. O Holden tem mania de perseguição, ele acha que todo mundo está contra ele, porque ele não se sente pronto para crescer. O Holden enlouquece, ele surta. Ele não aguenta a pressão e, simplesmente, surta. Vários adolescentes passam pela mesma coisa todos os dias, quer eles falem sobre isso ou não. O Apanhador é um dos poucos livros canônicos, estudados em escolas, que trata de uma temática que os adolescentes compreendem.

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