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Resenha: Fronteiras do Universo (série)


    E enfim, depois de quatro anos de espera, eu terminei de ler a trilogia Fronteiras do Universo. De autoria de Philip Pullman, a série é composta pelos livros A Bússola de Ouro, A Faca Sutil e A Luneta Âmbar. Pullman é um premiado autor britânico de livros dedicados ao público infanto-juvenil e, nessa série, ele abala as estruturas. A trilogia não é assim tão conhecida, mas tem uma qualidade inegável. A resenha a seguir contará com alguns leves spoilers, afinal, depois de quatro anos esperando eu tenho meus direitos de comentar sobre o que li.

   O primeiro livro, A Bússola de Ouro, deu origem a um filme de mesmo nome e é o melhor livro de toda a trilogia. O clima presente na Bússola é muito gostoso, a história é envolvente e você lê muito rápido, muito rápido mesmo. No primeiro livro somos apresentados à protagonista, Lyra, uma garota de doze anos bem rebelde e moleca. Ela é criada por catedráticos na tranquila cidade universitária de Oxford, na Inglaterra. Entretanto, crianças começam a desaparecer pela região. Ao conhecer a linda e encantadora Sra. Coulter, Lyra deixa a Universidade Jordan para viver com a mulher. Antes que Lyra parta o Reitor da Jordan confia-lhe o aletiômetro, um misterioso objeto capaz de dizer a verdade através da interpretação de símbolos. Porém, ao descobrir que Coulter não é tão maravilhosa quanto parece Lyra foge e inicia sua viagem pelas terras do Norte ao lado dos gipsios, onde ela se verá diante de feiticeiras, ursos de armadura, aerostatas e muitos perigosos. 

    Como eu disse, o Bússola é o melhor, livro, sério. Ele fez eu me apaixonar por Lyra, Iorek Byrnison, Serafina Pekala e muitos outros personagens. O primeiro livro é menos "pesado" que os demais mas possui um clima muito gostoso. Tudo é uma descoberta; a narrativa é cheia de reviravoltas e o final é de tirar o fôlego. Isso sem contar o quão deslumbrada eu fiquei por conta do aletiômetro. 

    O segundo livro, A Faca Sutil, possui um ritmo frenético com dezenas de coisas acontecendo ao mesmo tempo. Em A Faca Sutil, Lyra conhece Will, um garoto de um mundo muito parecido, mas também muito diferente do dela. Will é um garoto de doze anos. Ele tem uma mãe doente e um pai que desapareceu misteriosamente doze anos atrás. Will começa o livro imerso em um grande problema e tudo só piora quando ele, acidentalmente, mata um homem. Preocupado com a mãe e atordoado pelo crime que cometeu, Will segue uma gata de rua por uma estranha janela no tempo, indo parar em um outro mundo onde conhece Lyra. A partir daí o destino dos dois se mostra entrelaçado e eles começam uma jornada juntos.
 
   A Faca Sutil é um livro onde acontece muitas coisas, muitas coisas mesmo. A história também se desenvolve bastante, alguns mistérios são revelados e outros novos surgem. Eu senti uma leve mudança em Lyra ao longo desse livro; a garota começa a amadurecer e se tornar menos "selvagem". Ainda assim, ela continua com aquele jeitinho todo Lyra de ser que me cativou no primeiro livro. Entretanto, no segundo volume da trilogia Pantaleimon tem uma participação um pouco menor, o que me fez sentir um pouco de falta do dimon brincalhão de Lyra. Também é nesse livro que o conjunto de personagens começa a ter suas maiores perdas.
 
   O terceiro e último livro da série chama-se A Luneta Âmbar. É o maior dos três livros, mas foi o que eu menos gostei. Esse livro é o mais carregado de ideologia. É nele que mais percebemos certos posicionamentos do narrador da série e ele também o livro que mais faz com que o leitor se questione. A Luneta Âmbar é repleto de cenas lindas e fortes, batalhas ferozes, acontecimentos de tirar o fôlego, confusão, desespero e lágrimas dos personagens. O volume possui sequências de cenas muito marcantes. Nele, a série já está na reta final e tudo, ou quase tudo, é explicado. 

    Falando da trilogia num geral, eu achei muito boa, mesmo. Entretanto, vou ser sincera com vocês, a trilogia tem sim uma ideologia ateísta e isso influí na obra. Ninguém vai virar ateu por ler a série, claro, e é uma boa experiência a leitura. Dois tipos de pessoas talvez se sintam muito tocadas pela leitura dessa série: alguém que frequenta algum tipo de religião ou alguém que tem muitas dúvidas quantos suas próprias ideias em relação a esse assunto. Eu faço parte do primeiro caso, mas isso não me afetou muito com relação a leitura. Quero dizer, nada escrito ali me irritou ou incomodou. E foi, digamos, interessante, me ver diante de uma visão diferente de um assunto tão delicado como esse. Basicamente, se as coisas tivessem acontecido no nosso mundo da mesma maneira que aconteceram nos mundos onde a história se passa, bem, acho que eu entenderia o posicionamento de certas personagens da história. Também foi bom ver como algumas coisas, quando vistas por um certo olhar e tomadas de certa maneira podem ser ruins. Quando a gente se apropria de algum preceito, temos de tomar muito cuidado com a forma como vamos encarar aquele preceito. Uma interpretação ferrenha e errônea pode tornar algo bom uma coisa bem terrível. Em Fronteiras do Universo a Igreja Católica retratada age segundo os preceitos da Idade Média, então, é claro que ela era má e louca. Eu me vi dando graças a Deus por as coisas não serem mais assim, pelo menos nos locais que eu costumo frequentar. Uma coisa importante a se retratar é que a visão apresentada pelos personagens, nem sempre é, necessariamente, a visão de Pullman. Pode ser a visão do narrador, mas o narrador também é um personagem. Fronteiras do Universo é uma obra de ficção, não uma obra autobiográfica. Também é preciso ressaltar que a crítica de Pullman é sobre a opressão que a religião cristã é capaz de causar, não sobre a religião cristã em si ou sobre os cristãos da nossa realidade. A Autoridade retratada por Pullman era um tirano, ele exercia e incitava a tirania, em nenhum momento Pullman diz que o Deus cultuado em nosso mundo é um tirano. Na triologia o que ocorre é uma caricatura, por falta de palavra melhor, de Deus. A Autoridade é mais um personagem, nada tem de condizer com a realidade. Devo dizer que Pullman foi muito ousado ao fazer e, sim, isso é para soar elogioso.

   A maneira como Pullman trabalha com toda a questão ideológica, mais a questão da bíblia, mais a questão física, mais a questão filosófica e humana também é muito legal. A trilogia é um misto de diversas coisas salpicado com fantasia e, meu Deus, eu amo fantasia! Sempre achei e ainda acho Fronteiras do Universo uma série muito melhor do que muitas existentes no mercado literário atual e me deixa bem triste saber que poucas pessoas a conhecem. O final da trilogia é bem paradoxal. É triste, mas ao mesmo tempo esperançoso.



 Quanto à adaptação cinematografia de A Bússola de Ouro: em questão visual a produção mandou muito bem, já quanto o roteiro deixou um pouco a desejar. O filme não adaptou o primeiro livro inteiro o que é bem frustrante uma vez que você leia o livro. Ainda assim, eu gosto muito da escolha da atriz que interpreta Lyra. Dakota Blue Richards foi muito bem como a rebelde garota de doze anos. Ela conseguiu me passar aquele ar selvagem da Lyra, aquela rebeldia, aquela quase empáfia que a garota possui. Gosto particularmente das cenas em que Lyra utiliza um dos seus maiores talentos: mentir.

Nicole Kidman dá vida à sra. Coulter e eu também não seria capaz de imaginar outra mulher para o papel. Na pele de Marisa Coulter, Kidman exerce todo o seu encanto, sedução e maravilha.

Eu assisti ao filme antes de ler o livro e essas duas personagens ficaram muito gravadas na minha cabeça de modo que eu não consegui tirar a imagem das atrizes da minha mente. Quando eu leio o livro imagino Dakota como Lyra e Nicole como sra. Coulter. Entretanto, atualmente eu tenho uma outra imagem perfeita de Lyra em minha cabeça.


    Fronteiras do Universo é uma série ousada e grandiosa. Ela aborda temas grandiosos, ela tem ações grandiosas e ela tem um desfecho muito grandioso. É uma série que devia ser mais reconhecida, afinal, o trabalho de Pullman é, de fato, muito interessante. Já chegaram a colocá-lo no mesmo patamar de Tolkien e C.S Lewis e eu acho a comparação merecida. Apesar de não ser muito difundida, Fronteiras do Universo tem potencial para ser uma série de fantasia capaz de atravessar barreiras como a censura e o tempo.

4 comentários:

  1. Oi! Adorei a crítica aos livros.
    Já os li uma vez e estou repetindo a dose.
    O único porém que deixo é que eu nunca imaginaria a Nicole Kidman como a Sra Coulter.
    Eu sempre imaginei a Michelle Pfeiffer de cabelos pretos.
    A Nicole é linda e tem a aura da Marisa, mas se pelo menos pintasse o cabelo de castanho escuro, como na descrição do personagem do livro, encaixaria melhor ainda.

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    1. Eu assisti primeiro o filme e li o livro depois, então eu consigo aceitar a Nicole no papel. Eu nunca imaginei outra pessoa, pra ser sincera. O que me deixa triste com o filme é o fato de ele não ter adaptado o livro inteiro.

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  2. Pois quando eu, mais de 10 anos atrás, eu só conseguia visualizar a Ana Paula Arósio como a Marisa. Acho que foi a única personagem que eu dei um rosto conhecido enquanto lia...

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    1. Ana Paula Arósio... Que peculiar. Mas talvez combinasse, no fim das contas. Ela é linda.

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